Um projeto do Banco Mundial com 10 empresas da região da Av. Engenheiro Luis Carlos Berrini, na Zona Sul de
São Paulo, criou iniciativas para melhorar o trânsito em horários de pico.
Incentivo ao uso de transporte público, ônibus fretado, caronas e flexibilização de horário foram algumas das medidas discutidas com as companhias e, ao final de um ano, o número de funcionários que utilizam o carro para ir ao trabalho diminuiu de 53% para 50%.
O programa foi desenvolvido após observar experiências semelhantes nos Estados Unidos, que buscou na iniciativa privada parte da solução para o problema da mobilidade. “Mesmo voluntariamente, o projeto causa impacto”, afirma a coordenadora do projeto no Brasil, Andrea Leal. Cerca de 1,5 mil funcionários participaram do programa.
Ao longo de um ano os funcionários foram orientados a usar alternativas ao carro como principal meio de transporte. O uso do transporte público cresceu de 29% para 31%.
Entre as opções oferecidas pelas empresas está o ônibus fretado foi outra alternativa bem recebida. O transporte, que antes era usado por 6% dos entrevistados, passou a ser principal meio de transporte de 10% dos empregados após o incentivo das companhias.
O gerente de certificação Marcos Jacobina trocou o veículo próprio pelo ônibus fretado para percorrer o trajeto de sua casa, em Mauá, ao trabalho. O incentivo veio da empresa em que trabalha, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, que participou do programa piloto de mobilidade do Banco Mundial. “Meu carro chegou a bater 220 mil quilômetros rodados só de ir e voltar do trabalho”, conta Jacobina. “Falei chega. Não dá mais. O trajeto é o mesmo. Só que eu venho e volto lendo, assistindo televisão, dormindo. Em termos de horário não mudou, mas a qualidade do transporte é bem melhor”, afirma.
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) reduziu de 42 para 27% o número de funcionários que iam de carro para a empresa. O uso do ônibus fretado cresceu de 3% para 7%.
Além da divulgação de opções de transporte público, a empresa também ofereceu a opção do home office para alguns funcionários e flexibilizou o horário de entrada e saída na empresa. “É uma tendência. Grandes empresas estão fazendo isso. É uma questão de mobilidade e de qualidade de vida também. Retém mais talento”, avalia o superintendente de operações do IBGC Emílio Martos.
Para o Banco Mundial, o envolvimento de empresas em políticas para melhorar a mobilidade é essencial. “Para que haja um impacto tem de ter um conjunto de pequenas medidas. Não vai ser a solução para tudo, mas pelo menos temos um plano de ações”, afirma o especialista sênior em transportes do Banco Mundial, Georges Darido.
Caronas
Entre os funcionários que não abrem mão do conforto do carro, a opção foi incentivar a oferta de caronas. O site Caronetas entrou como parceiro das empresas e conseguiu aumentar de 4 para 7% o número de funcionários que adotavam a prática no IBGC.
O site mapeia os principais destinos dos funcionários de uma empresa e possibilita a comunicação entre as pessoas com trajetos semelhantes. “A carona só tem dois resultados: ou ela tira um carro da rua ou tira alguém do transporte público. Se tira alguém do transporte, na situação atual, beneficia a quem fica. Se tira o carro, melhora o trânsito, melhora a poluição e abre espaço para o transporte público, para o ciclista”, argumenta o CEO e criador do site, Márcio Nigro.
Por ser compartilhado apenas entre pessoas de uma mesma empresa, o Caronetas soluciona um obstáculo apresentado por 42% dos funcionários que não se sentiam à vontade para oferecer ou pegar caronas por preferir que elas fossem realizadas entre pessoas do mesmo prédio.
“O site não é uma rede social. Ele só mostra quem está próximo e tem o mesmo trajeto”, explica Nigro. Os usuários cobram pelos trajetos que fazem e pagam pelas caronas que pegam em forma de créditos, que podem ser trocados por produtos em lojas, combustível ou até mesmo por pacotes de viagem.
Para Georges Darido, o uso compartilhado dos automóveis é uma solução importante para a região da Berrini, que concentra um grande número de pessoas que dirigem desacompanhadas. “O programa é uma estratégia que seria de maior interesse onde existe uma concentração muito grande de uso de automóvel, como a Berrini”, afirma.
“Identificando as lições aprendidas e as condições ideais para esse tipo de estratégia, gostaríamos de divulgar essa experiência para que ela seja replicada”, afirma Darido. “Claro que tem um longo caminho para percorrer, até porque, em outros países há uma legislação para que as empresas também participem e apresentem soluções para a mobilidade”, conclui Andrea Leal.
Trânsito intenso na Avenida Washington Luís, em frente ao Aeroporto de Congonhas, Zona Sul de São Paulo (Foto: Renato S. Cerqueira/ Estadão Conteúdo)