Os jornais, com enorme mau humor, noticiam a vitória de Nicolás Maduro nas eleições venezuelanas.
“Não valeu”, dizem, porque a abstenção foi de 53%, pois o voto não é obrigatório.
E que em outros pleitos a abstenção ficava na faixa de 25%, o que é verdade.
Basta uma conta simples para ver que isso tem uma razão: o fato de que os partidos de direita (o MUD, Mesa de Unidad Democratica é a coligação que os representa) pregaram a abstenção eleitoral, não participando da camapnha dos adversários de Maduro.
Logo, boa parte destes 30% a mais de ausência eleitoral são “não- votos” de oposição.
Ninguém sugere que o atual presidente venezuelano tenha os mais de dois terços de apoio que teve entre os votantes.
Em julho do ano passado, num referendo convocado pela oposição antichavista e boicotado pelo Governo – situação exatamente ao inverso da eleição de ontem – os jornais saudaram o comparecimento de 7,2 milhões de eleitores como uma “participação em massa”.
Ontem, o comparecimento de perto de 9 milhões de eleitores – dos quais Maturo teve mais de 5,8 milhões de votos, ou 67%) – é tratado como se fosse um fracasso, com uma ausência da maioria.
Repare que, dependendo das preferências políticas, 7,2 milhões de pessoas são “em massa”, mas 9 milhões são “uma eleição deserta”.
Nas eleições passadas nos EUA, o comparecimento foi de 46,6%. Na França, abaixo de 50%. Na média dos Estados Unidos, Canadá e Eupropa Ocidental, anda pelos 60%, segundo dados do International Institute for Democracy and Electoral Assistance, citados pelo Nexo Jornal.
Não é uma questão aritmética, portanto, legitimar ou deslegitimar as eleições venezuelanas. Elas e seu resultado são, sim, um fato político.
A Venezuela é o triste retrato do que se passa em um país partido ao meio, sabotado, desestabilizado e onde se recusa o diálogo entre as forças políticas.
O Jornal Nacional, no sábado, argumentou que “com líderes de oposição presos e candidaturas cassadas, fica difícil confiar nas urnas”.
É verdade, embora este mesmo conceito pudesse ser aplicado aqui, com sinais trocados, não é?
E nenhum órgão de imprensa diz que é ilegítimo termos um governo com menos de 5% de respaldo popular, embora tenham sustentado todo o tempo que pouco importavam as esquecidas pedaladas, a derrubada do governo de Dilma se justificasse por ter apenas 10% de popularidade.
O fato político concreto é que Nicolás Maduro, nas piores condições possíveis, agrega a vontade de seis milhões de eleitores venezuelanos. É provável que a oposição ande por aí ou até pouco mais, embora não consiga reunir-se em torno de uma liderança e dela disse a insuspeita BBC: ” Antes y durante la campaña se ha mostrado nuevamente dividida y sin líder”.
É preciso um governo de diálogo naquele país e, reconheça-se, foi este o primeiro apelo de Maduro após as urnas.
Mas Estados Unidos, parte da Europa e a leva de governos conservadores da América Latina seguem apostando na divisão e na demolição da Venezuela.
Não há vitória possível sobre os emcombros de um país. Para ninguém.
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