Dobrado o cabo do centésimo capítulo, é possível cravar: Téo Pereira é um sucesso. O ator está divertidíssimo fazendo o gay que, embora cheio de trejeitos caricatos, tem os seus representantes na vida real
Maria Carolina Maia
O personagem Téo Pereira é prova de que Aguinaldo Silva -- ufa -- esnoba o politicamente correto - Divulgação/TV Globo
A campainha toca, e Leonardo (Klebber Toledo) corre à porta pensando encontrar o ex-amante, Cláudio Bolgari (José Mayer). Mas quem o encara, do lado de fora do apartamento, é um visitante muito mais picante. “Surpriiise”, diz o blogueiro Téo Pereira (Paulo Betti), fitando-o de soslaio e sorrindo de modo gutural – hum, hum, hum, hum – enquanto aperta os lábios e tremelica de leve a cabeça. Os trejeitos e a voz quase em falsete compõem um personagem que, para uma parte do público, não tem par na realidade. A baixa receptividade a Téo Pereira vem rendendo ataques ao ator Paulo Betti nas redes sociais desde o início da novela. Mas, afinal, qual o problema de Betti em Império?
Nenhum. Dobrado o cabo do centésimo capítulo, episódio que marca o clímax de todo folhetim, é possível cravar: absolutamente nenhum. Quem nunca conheceu um gay como Téo Pereira? “Eu conheço um monte. Não existe ser humano padrão, hetero ou gay. Somos todos diferentes um do outro. O mundo é diverso”, diz Toni Reis, secretário de educação da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Reis estava à frente da entidade quando ela se posicionou contra a Globo em 2011, após a emissora mandar Gilberto Braga segurar o facho do casal de meninos de Insensato Coração, e agora, vê tudo de modo diferente. “Se a gente não quer ser padronizado, não pode exigir isso dos outros. Téo Pereira é caricato, sim, mas há pessoas como ele. O que ele faz é real. É o que a gente chama de dar pinta, soltar a franga, dar a louca”, enumera.
Nenhum. Dobrado o cabo do centésimo capítulo, episódio que marca o clímax de todo folhetim, é possível cravar: absolutamente nenhum. Quem nunca conheceu um gay como Téo Pereira? “Eu conheço um monte. Não existe ser humano padrão, hetero ou gay. Somos todos diferentes um do outro. O mundo é diverso”, diz Toni Reis, secretário de educação da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Reis estava à frente da entidade quando ela se posicionou contra a Globo em 2011, após a emissora mandar Gilberto Braga segurar o facho do casal de meninos de Insensato Coração, e agora, vê tudo de modo diferente. “Se a gente não quer ser padronizado, não pode exigir isso dos outros. Téo Pereira é caricato, sim, mas há pessoas como ele. O que ele faz é real. É o que a gente chama de dar pinta, soltar a franga, dar a louca”, enumera.
'Busquei o Téo dentro de mim'
- Paulo Betti, 62, fala sobre o blogueiro
Fazer um gay espalhafatoso como Téo Pereira é um desafio para o senhor?Estou adorando interpretar o Téo, um personagem que é provocante e exagerado. Quando li os primeiros capítulos e vi que o Aguinaldo Silva escrevia “quereeeeda”, percebi que era uma “bicha louca” e fui procurar dentro de mim mesmo onde estava esse personagem. Também pensei em como meu amigo Hugo Carvana faria o papel, ele sempre imitava um gay no set de filmagem, brincando com os colegas.
A que escola de interpretação o senhor recorreu para o papel? Não pensei em fazer realismo ou naturalismo, quis fazer algo mais expressionista, mais farsesco, mais teatral, cheio de gestos e revirar de olhos, rendilhado, barroco. Misturei todas as pessoas que conheci e intuí uma nova.
Que outas referências entraram na composição? O personagem é um blogueiro maldoso, alcoólatra, antiético. Fui fundo no vilão de desenho animado e de histórias em quadrinhos, adoro caricaturas, adoro humor.
A crítica tem sido impiedosa com a sua interpretação. Isso incomoda? Alguns mais críticos reclamaram que o personagem estava muito caricato. Teve gente que disse que parecia teatro de revista, chanchada. Mas eles estavam certos! Eu sempre adorei Oscarito, Ronald Golias, Zé Bonitinho.
E o público, como tem reagido? O público gostou de cara, desde o começo da novela recebo cumprimentos e sou abordado o tempo todo por pessoas que dizem estar adorando. Os que estranharam no começo aos poucos foram se acostumando com a minha interpretação e agora estão se divertindo. Império é uma novela, ficção, comédia, um passatempo.
Téo Pereira, de fato, amplia o leque de gays de Império, novela que bate recordes nesse quesito. O folhetim conta com um bissexual enrustido, representado pelo cerimonialista Cláudio Bolgari (José Mayer), a travesti Xana Summer, figura espalhafatosa e carismática vivida com desenvoltura por Airton Graça, e Leonardo (Klébber Toledo), o menino que Cláudio Bolgari saía de casa para ver, com o consentimento da esposa. E há quem diga que Enrico (Joaquim Lopes), o homofóbico virulento, ainda não se descobriu.
Mas Téo Pereira também abre o leque dos personagens impagáveis criados por Aguinaldo Silva, um grande criador de tipos. São muitos, da beata falsa que guardava ajoia do marido morto em uma caixa, em Tieta(1989), ao fotógrafo finado vivido por Fábio Jr. em Pedra sobre Pedra (1992), que aparecia e proporcionava momentos de paixão intensa às mulheres que comessem uma flor de formato fálico – a flor de Jorge Tadeu.
Para Reis, diante de tudo isso, as críticas a Paulo Betti parecem reflexo do preconceito enfrentado por homens como o que representa. "Cu-ru-zes", diria Téo Pereira. “O gay passivo sofre mais discriminação que o ativo. A crítica ao ator está carregada desse preconceito”, afirma Reis, para então fazer um elogio cheio de brilho ao ator. “Ele está fazendo um excelente trabalho. Para um machão como ele, interpretar um gay afeminado é difícil.”
Mas Téo Pereira também abre o leque dos personagens impagáveis criados por Aguinaldo Silva, um grande criador de tipos. São muitos, da beata falsa que guardava ajoia do marido morto em uma caixa, em Tieta(1989), ao fotógrafo finado vivido por Fábio Jr. em Pedra sobre Pedra (1992), que aparecia e proporcionava momentos de paixão intensa às mulheres que comessem uma flor de formato fálico – a flor de Jorge Tadeu.
Para Reis, diante de tudo isso, as críticas a Paulo Betti parecem reflexo do preconceito enfrentado por homens como o que representa. "Cu-ru-zes", diria Téo Pereira. “O gay passivo sofre mais discriminação que o ativo. A crítica ao ator está carregada desse preconceito”, afirma Reis, para então fazer um elogio cheio de brilho ao ator. “Ele está fazendo um excelente trabalho. Para um machão como ele, interpretar um gay afeminado é difícil.”
O ex-presidente da ABGLT vai além e – mostrando que não perde um capítulo da novela – deita Téo Pereira no divã. “O que ele sente é inveja da vida feliz do Claudio Bolgari. Também parece haver um amor mal resolvido entre eles”, analisa. A inveja e o amor, acredita, não correspondido teriam levado o blogueiro a publicar a foto em que o cerimonialista aparece beijando o então amante, Leonardo (Klebber Toledo), em um post que deu origem a uma série de crises em Império, como o rompimento de Claudio com o filho, Enrico (Joaquim Lopes), ocancelamento do casamento entre Enrico e Maria Clara (Andreia Horta) e o acidente que quase vitimou a mulher de Claudio, Beatriz (Suzy Rêgo).
Criador da trama e de Téo Pereira, o dramaturgo Aguinaldo Silva define o blogueiro venenoso como uma “criatura de desenho animado que habita o universo ‘real’ da novela”, uma “fuga proposital ao naturalismo”, previamente combinada com Paulo Betti e a direção da novela. E garante que o personagem, ao contrário do que dizem os maldosos de plantão, não é um decalque seu. “Téo só é meu alter-ego quando fala como jornalista. Aí ele diz as coisas que penso neste momento sobre a profissão que exerci por 18 anos. Mas eu tenho outros alter-egos na novela. Maria Marta, por exemplo, quando fala aquelas pérolas. Uma delas, em que eu assino embaixo, é essa: ‘É sempre bom ajudar as pessoas humildes. Afinal, nunca se sabe quem vai ser o próximo presidente da República’."
Criador da trama e de Téo Pereira, o dramaturgo Aguinaldo Silva define o blogueiro venenoso como uma “criatura de desenho animado que habita o universo ‘real’ da novela”, uma “fuga proposital ao naturalismo”, previamente combinada com Paulo Betti e a direção da novela. E garante que o personagem, ao contrário do que dizem os maldosos de plantão, não é um decalque seu. “Téo só é meu alter-ego quando fala como jornalista. Aí ele diz as coisas que penso neste momento sobre a profissão que exerci por 18 anos. Mas eu tenho outros alter-egos na novela. Maria Marta, por exemplo, quando fala aquelas pérolas. Uma delas, em que eu assino embaixo, é essa: ‘É sempre bom ajudar as pessoas humildes. Afinal, nunca se sabe quem vai ser o próximo presidente da República’."
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