Ao proferir seu voto no julgamento do habeas corpus de Lula nesta quarta-feira, Gilmar Mendes fez duras críticas à grande mídia brasileira. Horas depois, a Rede Globo ordenou que William Bonner, na bancada do Jornal Nacional, rebatesse a fala do ministro
William Bonner e Gilmar Mendes
Incomodada com o voto de Gilmar Mendes nesta quarta-feira (4) durante o julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Rede Globo decidiu rebater o ministro em horário nobre, através do Jornal Nacional, usando William Bonner como porta voz, ao vivo.
“Gilmar Mendes criticou a imprensa de forma geral, afirmando que a mídia está fazendo uma cobertura opressiva. Gilmar Mendes reclamou do Jornal Nacional, que ontem mostrou que o ministro tinha votado a favor da prisão em 2ª instância em 2016, e que mudaria de posição hoje, como de fato aconteceu”, disse Bonner, logo no início do Jornal Nacional.
“O ministro entendeu que o Jornal Nacional quis provar a incoerência dele. Não foi esse o propósito do Jornal Nacional. O que se fez aqui foi apenas jornalismo”, argumentou o apresentador.
Bonner ainda lembrou que, pelo critério de antiguidade – que determina que os ministros há mais tempo na Casa devem votar antes –, Gilmar deveria ter sido o 8º a votar. Mas, como tinha de viajar a Lisboa para um seminário do instituto de que é sócio, pediu para se pronunciar antes.
O voto de Gilmar Mendes
Indicado para o STF por Fernando Henrique Cardoso, Gilmar Mendes disse nesta quarta-feira, durante o seu voto, que já viu de tudo no exercício do cargo, “mas nunca vi uma mídia tão opressora quanto essa dos últimos anos”, disparou [vídeo abaixo].
“Não me lembro de uma mídia tão opressora, até de certa forma chantagista. Essa mídia opressora fez outro festival no Jornal Nacional, querendo provar minha incoerência [em relação à prisão em segunda instância]. Não tem incoerência, só responsabilidade institucional com o País”, desabafou.
Segundo Gilmar, quando ele e outros 5 ministros votaram, em 2016, a favor da execução provisória de pena a partir de sentença condenatória proferida em segunda instância, o entendimento majoritário era o de que a orientação não seria uma ordem, uma obrigação jurídica, mas sim uma “possibilidade”.
“Essa possibilidade tem sido aplicada pelas instâncias inferiores automaticamente”, ressaltou. “Essas prisões automáticas empoderam um estamento que já está por demais empoderado, os estamento dos delegados, dos promotores, dos juízes.”
Na visão do magistrado, esses “estamentos” inferiores são ainda mais suscetíveis à pressão da mídia, comportamento que não pode ser reproduzido no Supremo. “Se deixamos de decidir causas como esta porque a mídia quer este ou aquele resultado, melhor nos demitirmos e irmos para casa”, defendeu.
A fala de Gilmar Mendes levou alguns minutos e trouxe também o nome de outros veículos de comunicação, entre eles, a Folha de S. Paulo e O Globo.
Gilmar ainda chamou a imprensa brasileira de “chantagista”, ao criticar reportagem da Folha que revelava que o STF tem 88 dias de férias ao longo do ano.
Apesar de criticar o momento em que o texto foi publicado, o próprio magistrado concordou que os feriados do Judiciário precisam acabar. “Temos de acabar com as férias em dobro. Temos de acabar com penduricalhos, com auxílio-moradia, com o diabo. Mas não mediante chantagem”.
VÍDEO:
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