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terça-feira, 26 de agosto de 2014

O Pastor e Suas Ovelhas. Política e Religião um casamento que nunca deu Certo.

Mas a entrevista ao JN revelou um enorme teto de vidro. Ele fala em privatizações mas sem grande convicção. Sua adesão às teses liberais não tem sequer um ano. Muitos ficaram céticos. E é compreensível o ceticismo com o Sr. Everaldo. Seu histórico de apoio partidário não empresta muita genuinidade à sua agenda de aparente inspiração liberal. Aparente porque seu posicionamento contra a liberação das drogas, ainda que irrelevante dado que o assunto está longe de ser prioridade na agenda do congresso, levanta dúvidas sobre a solidez de suas crenças nos princípios liberais - só pra constar, Milton Friedman sempre advogou pela liberalização, muito antes de Thomas Sowell, Jeffrey Miron e tantos outros mais recentemente. Há inúmeros argumentos econômicos a favor. Veja, por exemplo, detalhada a discussão de prós e contras nesse artigo de Jeffrey A. Miron e Jeffrey Zwiebel publicado em 1995 no "Journal of Economic Perspectives".
Antes cedo do que tarde
É natural, portanto, que as pessoas questionem se esse suporte à agenda liberal é fruto de mero "estrategismo" político-econômico circunstancial (i.e., se posicionar no nicho do "mercado ideológico" com menor concorrência), ou realmente produto de convicções genuínas nas teses que ele agora defende. É verdade que para fins práticos, pouco importaria, por exemplo, que virando presidente ele promovesse uma reforma patrimonial do Estado por convicção ou por conveniência política. Mas é absolutamente natural e compreensível que se suspeite do quão crível é a promessa de implementação dessa e outras ideias liberais cujos fundamentos nunca tiveram intersecção com a matriz ideológica daqueles com quem ele esteve associado por praticamente toda sua vida política.
A nova velha direita
Entende-se o desespero de alguns por ver candidatos que possam introduzir elementos do lado direito do espectro político no debate. Mas, como diz o ditado, "a primeira impressão é a que fica", e receio que ter candidatos caricatos e rasos carregando supostamente uma bandeira da direita (nem falo "liberal clássica", porque há abundância de conservadores com visões obscurantistas se apropriando do rótulo) pode prejudicar mais do que ajudar a causa e, em última instância, prolongar esse atrofismo ideológico (a inexistência de um partido de centro-direita) que marca a política brasileira desde o fim da ditadura. E apresentar-se como Pastor - algo em choque com ideias liberais em inúmeros níveis - certamente contribui para isso.
Primeiro Teorema do mal-estar: mistura entre economia e vida privada
Uma dica para aqueles que parecem empenhados em divulgar as ideias liberais em seus blogs e perfis nas redes sociais: "stick to (laissez-faire) economics" (de preferência, com base em evidência empírica) e deixe assuntos de natureza privada à volição de cada pessoa. Afinal, não há nada mais deseducador (e desagregador) do que propagar, por exemplo, que as "bandeiras" por liberdades individuais (sobretudo aquelas no campo da religião, da sexualidade e da reprodução/parenthood) historicamente carregadas pelos movimentos de esquerda, só porque são de esquerda, não são necessariamente bandeiras do liberalismo clássico. Isto é absolutamente falso. O liberalismo é uma doutrina pela defesa da liberdade em vários dimensões, e não uma combinação de liberdade econômica com conservadorismo retrógrado, que deseja no seu âmago usar o poder do estado para legislar sobre assuntos de natureza privada. Não entender isso e nutrir esse mix de meias-liberdades pode transformar esse movimento liberal em um nicho sectário, um PCO da vida com o sinal trocado.

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