Os três maiores jornais do país publicam o mesmo título, afinal o troféu que perseguiram desde 2014.
“Lula preso”, em letras maiúsculas, daquelas que se reservam aos grandes acontecimentos: em geral, tragédias.
Do ponto de vista factual, sim, é o título, embora rescendendo a passado, ao tempo em que as notícias vinham pelo jornal, porque hoje – e mais ainda neste caso – é quase um pleonasmo jornalístico.
Retire, porém, sua cabeça da onda de propaganda e do que o coleguinha Luís Costa Pinto, ontem, chamou com muita propriedade, de “jornalismo de helicóptero”.
Está difícil fazer isso, eu sei, porque há mais torcida que análise e os fenômenos sociais são matéria de lenta disgestão no imaginário popular.
Mas já é possível pensar quem ganhou com tudo o que vem se passando desde quarta-feira, no julgamento do habeas corpus.
Quem está preso, afinal, mais do que está o Brasil?
O golpismo – tanto o político quanto o judicial, um a alimentar o outro – nos conduziram a uma situação onde não há, a rigor, meio-termo.
Não se pode ser “mais ou menos” com Michel Temer, ou com Sérgio Moro, ou com o “prender-soltar” Lula.
Bolsonaro drenou os eleitores tucanos e é, hoje, segundo se informa, o candidato favorito até no quartel general do PSDB, São Paulo.
O clima de polarização leva água ao moinho do fascismo, não há nenhuma dúvida.
Do outro lado, a cena simbólica em que Lula ergue os braços de Guilherme Boulos e Manuela Dávila, no discurso de ontem, revela uma evidente decisão do ex-presidente de transferir para jovens a sua liderança política, e não há dúvidas de que ali estaria Ciro Gomes se não fosse sua teimosia e -agora já menor – resistência a reaproximar-se de Lula. A seu favor, é certo, registre-se a proverbial dificuldade do PT em costurar alianças onde não seja hegemônico.
O grau de exposição que Lula teve nestes dias e a cenas que inundaram o país vão, no mínimo, solificidar o favoritismo que ele tinha, senão ampliá-lo pela percepção de um martírio.
Para a dita “centro-direita” sobrou quase o esquecimento.
Pode-se argumentar que as eleições ainda estão distantes – embora faltem seis meses para elas, apenas – e que a campanha de televisão – e os tempos generosos com que contarão PMDB e PSDB na campanha de televisão pode virar este quadro.
Não creio nisso, porque a internet e suas redes sociais, a esta altura, tornaram-se tão ou mais presentes que as redes de TV aberta. E, ainda mais: uma possível aliança PSDB-PMDB tornou-se quase impossível por um paradoxo, porque uma possível união das máquinas políticas e dos tempos de televisão esbarra em absorver também a ojeriza a Michel Temer, capaz de tirar mais do que aquela união daria.
Ao longo da campanha, outro debate vai dominar os espaços: o inevitável movimento político e jurídico para soltar-se Lula.
Pois é Lula, preso, quem prende as atenções do Brasil, à esquerda e à direita, no povão e nas elites.
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