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domingo, 19 de março de 2017

A oligarquia do Janot

Palácios ficarão desertos, com seus salões vazios e suas mesas de reunião cobertas de papéis ao vento. Quem sabe poderemos tentar começar um novo país
Cacá Diegues, O Globo
Saiu finalmente a lista do Janot, o documento mais esperado na vida pública brasileira. Além de mais esperado, o documento que se imagina mais decisivo para o futuro do país, desde a carta-testamento de Getulio Vargase nele não há projeto político, nem poesia de exaltação. Apenas nomes e os supostos malfeitos pelos quais serão investigados.
Pelas personalidades citadas e as razões aparentes de suas citações, a lista do Janot é a ponta de um iceberg imensamente profundo, responsável pelos piores desastres na rota de navegação do país.
O iceberg da oligarquia brasileira, um conjunto de poderes de uma só classe que, ao longo da História, transformou o Estado em propriedade privada em seu próprio benefício.
A lista do Janot nos entrega alguns dos mais significativos representantes atuais da oligarquia que controla e rege o país desde sempre.
A oligarquia que administrou seu regime de poder durante toda a República que ela mesma proclamou, em represália à Abolição que o Império inventou e que prejudicou sua economia baseada no escravismo.
O mesmo Império do qual foi senhora, com seus senhores de terras herdadas das Capitanias Hereditárias que o colonialismo português instalara no Brasil depois da “Descoberta”.
De vez em quando, um herói da República nos trazia inesperadas esperanças; como Vargas, um oligarca com sentimento de culpa, ou Lula, um homem do povo fascinado pelo fascinante mundo da oligarquia.
Se as acusações da lista de Janot derem em alguma coisa, talvez estejamos assistindo ao início da passagem dessa oligarquia que comanda o Brasil desde sempre. Os palácios de Brasília e do resto do país ficarão desertos, com seus salões vazios e suas mesas de reunião cobertas de papéis ao vento.
Quem sabe poderemos tentar começar um novo país, com gente que a gente ainda não conhece, que não nos iluda com populismo e xenofobia, com o ódio ensaiado e oportunista aos que estavam aí.
Na lista do Janot estão os mesmos sobrenomes, as mesmas famílias de sempre, com seus herdeiros, arrivistas e parceiros que se organizam para eternizar o poder que não podem perder.
Agora mesmo, graças a seu direito de mudar a Constituição, eles estão tentando impor ao país um regime eleitoral distrital com lista fechada pelos partidos. Ou seja, seremos obrigados a votar em quem eles escolherem e quiserem, os mesmos nomes de sempre, desinteressados em renovar a Câmera e o Senado, incapazes de mudar o Brasil.
Aviso aos navegantes: enquanto isso, Geert Wilders foi derrotado na Holanda, mas Jair Bolsonaro já tem cerca de 10% de intenção de votos para 2018 e pode crescer nos próximos meses. Basta conquistar a cabeça da população fragilizada, com a mesma linguagem que elegeu Donald Trump e que encanta tanta gente na Europa neodireitista. A linguagem do medo, do elogio da mediocridade, do ressentimento contra a inteligência e a democracia.
Em entrevista recente à “Folha de S.Paulo”, por exemplo, Bolsonaro declarou que “não se combate violência com amor, se combate com porrada (...) Não vai ser com política de direitos humanos que vamos resolver a violência”. Ou, no final da entrevista: “Por isso que essa porra desse país está nessa merda aí. É por isso que o pessoal gosta de mim. (...) Vocês estão cavando a própria sepultura”.
E se ele acaba sendo eleito, o que é que a gente faz?
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Oligarquia (Foto: Arquivo Google)
Cacá Diegues é cineasta

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