A morte do cantor Agnaldo Timotéo, ontem, aos 84 anos, comoveu o Brasil que aprecia o que é bom, deixou de luto os românticos. Ele e Cauby Peixoto disputaram por muito tempo o titulo da maior voz da MPB. Dava gosto ouvir sua voz até na tribuna da Câmara. Quando eleito deputado federal pelo Rio e ocupou pela primeira vez o grande expediente da Câmara, Agnaldo não resistiu a emoção e cantou "Mamãe", sendo aplaudido de pé por um plenário de vários tons partidários e ideológicos.
Ali, não estava o parlamentar de direita e conservador, mas um dos maiores astros da música brasileira de boa qualidade. Agnaldo nasceu para cantar e emocionar, mas para brilhar e ganhar fama teve que ralar. Foi torneiro mecânico, cantor de bar, boates e cabarés até explodir num auditório de programa de TV indicado pela cantora, a deusa da MPB, Ângela Maria, de quem foi motorista no Rio.
Quem é que não sofre por alguém? Só quem nunca amou, respondia o próprio Agnaldo ao cantar um dos seus maiores sucessos. Na vitrola, ainda garoto em Afogados da Ingazeira, ouvia "Na galeria do amor é assim/muita gente à procura de gente". "Ave Maria" e "Verdes Campos" estão também entre os seus maiores sucessos.
Agnaldo cantou o amor e a dor de quem perde um grande amor. Quem nunca se emocionou que atire a primeira pedra ao ouvir "Eu ontem vi seu retrato, eu não me contive e logo comecei a chorar". E "Tão longe, de mim distante, onde irá, onde irá teu pensamento". Que lindo ver ele com a sua voz estridente cantar: "Olhos nos olhos, quero ver o que você faz/Ao sentir que sem você eu passo bem demais/ E que venho até remoçando/ Me pego cantando sem mais nem porquê? /E tantas águas rolaram/Quantos homens me amaram/ Bem mais e melhor que você".
Irreverente, sagaz e sarcástico, Agnaldo não tinha papas na lingua. Numa das últimas entrevistas que fiz com ele no Frente a Frente, caí na besteira de elogiar um show que assisti dele no Recife. Ao imaginar que reagiria com emoção foi logo dizendo que levou um tombo dos organizadores, que, segundo ele, não lhe pagaram o que tinha direito. E deu nome aos bois.
Outra vez morri de rir com o seu estresse diante da buraqueira da estrada de Albuquerquené até Afogados da Ingazeira. Entrevistado por um entusiasmado Nill Júnior, antes de começar a festa de aniversário da Rádio Pajeú, passou a primeira parte reclamando do seu sofrimento. "Esse governador de vocês não tem vergonha na cara? Não é capaz sequer de tapar os buracos da estrada de vocês? Isso é uma vergonha! Quase não consigo chegar. Ia me acabando num buraco", berrou.
Agnaldo já atacou até uma celebridade chamada João Gilberto. "Um cantor que não canta nada sob a ótica redutora da potência vocal", disse. Polêmicas à parte, Agnaldo devia agradecer a Deus pela voz que ganhou do criador. Absolutamente indiscutível o seu recurso vocal, o talento que tinha. Era um grande cantor, um monumental cantor, uma voz privilegiada.
Como artista, Agnaldo quebrou as janelas para se perpertuar na eternidade. É o tipo de artista que não se deve fazer monumento. O monumento já está feito: as suas obras. Artista nunca morre. Agnaldo se foi, mas o romantismo expresso nas suas canções ficam, para quebrar o silêncio da noite, embalar corações, eternizar o amor.( Magno Martins)
Postado por Madalena França
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