Com uma gentil e imerecida citação a este Tijolaço, o blog de Dilma Rousseff, hoje, concorda que a “consciência difusa da injustiça e da perseguição a Lula está se difundindo entre todos os segmentos da sociedade” e que está aí “a base da crescente e forte indignação que se percebe às vésperas do julgamento do TRF-4”.
É algo que vai crescendo, à medida em que fluem as horas até o momento em que apenas três homens darão seu veredito não sobre um caso confuso e não-provado de Lula ter recebido-um-apartamento-que-não recebeu, mas sobre possibilidade de que este país possa escolher livremente seu futuro presidente e aquilo que está na raiz da preferência da população pelo ex-presidente: o seu desejo de que o Brasil volte a viver um clima de convívio.
Não, o que vai acontecer dia 24 só é uma eleição para quem não tem voto, para quem despreza e exclui o povo da definição dos destinos, seus e da pátria. Pátria não é a de chuteiras e camisas de seleção, de bandeiras, de estandartes. Pátria é gente, ser humano e nada ofende mais o Brasil que voltar a se encher de crianças na rua e a se esvaziar de esperanças. Pátria de voltar a lembrar os versos do Vinícius de Morais: “minha pátria sem sapatos e sem meias, pátria minha, tão pobrinha!”
Pátria, definitivamente, não pode ser o ódio ao povo que a faz existir..
O que vai se passar, no dia 24, é a perspectiva sombria de esbulharem a população de escolher por si mesma, e é esta a sombria sentença que está em jogo.
É a chance “eleitoral”, a chance fétida e suja de quem, como disse ontem, é candidato a feitor de um povo, a dirigir um país onde a população é um problema, não a matéria-prima de uma nação.
Chance pela qual ela não hesita em tentar um assassinato político, cega ao fato de que se auto-infligirá um estigma à testa, como o fez, em 1954 e por décadas o carregou.
E isso assusta a todo e qualquer brasileiro que não se tenha aprisionado ao ódio, que não tenha cedido à irracionalidade feroz, que não deseje que, em lugar de reencontrarmos a normalidade, prossigamos na marcha suicida da insensatez que nos envolveu cada vez mais, desde 2013.
Leia aqui o artigo de Dilma, em seu blog, descontando da leitura a generosidade da ex-presidente com este blogueiro e o orgulho do próprio blogueiro por ter tão importante leitora.
Democracia e indignação
Dilma Rousseff, em seu blog
Fernando Brito, lúcido editor e redator do Blog Tijolaço, afirma que, depois do discurso de Lula, o que mais o impressionou na desta semana no Teatro Casagrande foi o do diretor teatral Aderbal Freire Filho, baseado em texto do filósofo e linguista norte-americano Noam Chomsky. Trata de dois mundos: o oficial – composto pelos políticos, pelos donos do dinheiro, pela mídia e seus comentaristas e pelas instituições – e o real, imenso e quase sempre mudo, onde habita a imensa maioria da população.
Acrescenta que talvez só a sensibilidade de gente que lida com a percepção alheia é capaz de dar-se conta de que isso acontece, no Brasil, onde se cavou um abismo entre o poder – e não só o de Temer – sem voto e o povo que se quer, furiosamente, impedir de votar.
E conclui que esta percepção transborda o leito da esquerda e começa a se generalizar entre os que não se cegaram de ódio.
Concordo com a análise e acrescento: acredito que uma consciência difusa da injustiça e da perseguição a Lula está se difundindo entre todos os segmentos da sociedade e que esta seja a base da crescente e forte indignação que se percebe às vésperas do julgamento do TRF4.
Uso as palavras precisas do blog Tijolaço: “O processo de radicalização que se quer atribuir a Lula não é a sua marca e o que a experiência real, vivida e comprovada, o mostram. Quem acha isso que imagine por dez minutos ser apontado como culpado de todos os males, acusado de todos os crimes e desqualificado de todas as formas, e veja o quanto se indignaria.
É dessa percepção de injustiça, de politização da justiça e de perseguição que nasce a legítima indignação – da sociedade, do próprio Lula e de todos que o cercam.
Indignação pacífica e democrática, pela qual o anseio de normalização das relações políticas e da amplitude do processo eleitoral não é um apelo à guerra, mas um chamado ao mínimo de civilidade e liberdades que a democracia precisa para funcionar e que um país precisa para ser governado.
A força pacífica, democrática e transformadora da indignação e a luta pela democracia fazem parte do lado certo da história.
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