Vladimir Safatle, na Folha de hoje, desenvolve, com felicidade um tem que já abordei aqui: que a destruição de Lula, da forma em que está sendo feita pela elite, usando a mão do Judiciário, é o fim daquilo que já havia sido comentado aqui, quando disse que nossa elite, na sua miopia histórica e, agora, com o ódio a priorar-lhe a visão, não entende que a exclusão à força do ex-presidente do processo eleitoral é sepultar o que ela passou a desejar, após a queda da ditadura: “um pacto político-social que desse governabilidade ao governo brasileiro.
Ao decidir pelo destino de Lula, o núcleo duro do poder nacional, este que continuará intocado mesmo quando pego em grampos fazendo prevaricação explícita nos palácios da República, sinaliza que não haverá mais conciliação alguma entre grupos políticos.
E se não há, o caminho aberto é o da ditadura, não o da democracia, que implica um mínimo de conciliação e respeito às regras e garantias para existir.
Por incrível que pareça, a parcela da direita que tem pretensões eleitorais está muda, talvez por pressentir que, a transformar-se a selvageria e o arbítrio em fé, no altar quem figure seja Jair Bolsonaro.
Tanto que seu decano, Fernando Henrique, volta a falar em Huck.
Serve qualquer coisa, porque desconstruíram a política, os partidos, a disputa eleitoral como formas de equação social, aceitável, mesmo que apenas mitigada sua injustiça.
Desde que, em 2013/2014, se decidiram a agir como o homem da fábula que estripou a galinha para buscar o ovo de ouro antes da hora, trocaram uma provável vitória eleitoral em 2018 pela aventura lavajista que abriu a Caixa de Pandora de onde surgiram os monstros que agora os apavoram: o Judiciário e o fanatismo protofascista.
Duvido que suas previsões – quase que só mesmo desejos – de que a extirpação de Lula do processo eleitoral esvazie Bolsonaro eleitoralmente, pelo fim da polarização.
Ao contrário, abre caminho a ele para ser, ainda mais, a personificação dos “instintos mais primitivos” que se decidiram a invocar.
O convívio leva-se muito tempo a construir, mas se destrói em pouco tempo ao fomentar-se o ódio.
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