Por Felipe Carreras*
Enquanto você lê, a pandemia da covid-19 contabiliza quase 540 mil mortos e mais de 19 milhões de casos confirmados no Brasil. Por isso, uma das medidas mais importantes para frear a pandemia foi o isolamento social. Contudo, o isolamento contribuiu também para reduzir a atividade física e aumentar o sedentarismo, um comportamento que mata 5 milhões de pessoas por ano em todo o mundo.
Pesquisas revelaram uma queda global de 10% a 40% das atividades físicas e um aumento de 126 dólares por pessoa nos gastos anuais em saúde para cada hora adicional de comportamento sedentário. A prevalência de comorbidades como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão entre outras, que são agravantes para a covid-19, se acentuam com o sedentarismo.
Por essa razão, os benefícios da atividade física durante o isolamento social são muito relevantes. Fato que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a lançar novas diretrizes, enfatizando que todas as pessoas, de todas as idades e em qualquer condição física, podem ser fisicamente ativas e que todo tipo de exercício conta.
Seja como parte do trabalho, um esporte, o lazer, a dança, as brincadeiras, seja como tarefas domésticas diárias: todo movimento conta. Estudos da OMS mostraram que, além dos inúmeros benefícios para a saúde, manter-se fisicamente ativo também beneficia a economia. Estima-se que o custo em assistência médica direta, relacionado ao sedentarismo é de US$ 54 bilhões e a perda de produtividade onera a economia em US$ 14 bilhões em todo o mundo.
No Brasil, morrem, por ano, 300 mil pessoas. Apesar da gravidade, o Ministério da Saúde destina apenas 0,029% do seu orçamento para políticas públicas em saúde preventiva. Por isso, questionamos o ministro da Saúde, durante a pandemia e temos insistido, por meio do nosso mandato e na presidência da Frente Parlamentar em Defesa da Saúde Preventiva, em medidas para aumentar a prática da atividade física e a promoção da saúde.
Apresentamos diversas propostas legislativas, entre as quais destaco: a atuação dos profissionais de educação física durante o período de calamidade pública (PL nº 2.939/2020); a oferta regular de programa de atividade física para idosos no SUS (PL nº 98/2020); o estágio obrigatório de estudantes de educação física nos equipamentos públicos com intuito de oferecer orientação aos cidadãos e conscientizar sobre a importância deste profissional no nosso dia a dia (PL nº 3.088/2019); a oferta de, no mínimo, três horas-aulas de educação física para estudantes da educação básica (PL nº 3.929/2019); a sugestão de criação de Programa Universitário do Esporte (INC nº 1.488/2019); a dedução de despesas com nutricionistas e profissionais de educação física no Imposto de Renda (PL nº 10.367/2018); e, mais recentemente, o requerimento de informações sobre o desenvolvimento do Programa Academia da Saúde e de ações para promoção da atividade física no âmbito da Política Nacional de Promoção da Saúde (RIC nº 557/2021).
O número de mortes por covid-19, sem nenhuma dúvida, é aterrorizante e nos faz, quase que sem intenção, não focarmos em outras pandemias, como a do sedentarismo. Estamos atentos às consequências da covid-19 e do longo período de isolamento social ao qual estamos sujeitos. Porém, também estamos com a atenção redobrada nas causas e nos efeitos dilacerantes que a ausência da atividade física tem causado em nossa população. Quando vamos começar a olhar também para essa letargia que assola boa parte dos brasileiros sedentários? Gente que está morrendo diariamente por doenças que poderiam ser evitadas por meio de uma rotina de exercícios.
O Brasil precisa abrir os olhos de forma urgente para este assunto, caso contrário ainda vamos enfrentar anos com a qualidade de vida cada vez mais deficitária, com os hospitais lotados e com mortes que poderiam ter sido evitadas. Esse não é o país que desejamos para nós nem para nossos filhos. Chegou o momento de darmos as mãos e nos mexermos para tratarmos hoje dos problemas do amanhã. Mas isso só será possível se vencermos essa guerra contra o sedentarismo. Essa é uma batalha em favor da vida.
Fontes: MATSUDO, V; SANTOS, M; OLIVEIRA, L. Quarentena sim! Sedentarismo não! Atividade física em tempos de coronavírus. Revista Diagnóstico e Tratamento, São Caetano do Sul (SP), Brasil. Vol. 25 (3): 116-20. Jul-Set. 2020.
*Deputado federal (PSB/PE)
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