É viável transformar o Brasil num país ridículo, na contramão do mundo, onde se exerce o poder a partir de um clã familiar, onde o moralismo (inclusive o sexual) se impõe como política de governo, onde situação econômico-social seja um individualíssimo “salve-se enquanto puder” e, como é visível, regresse a um estágio colonial, sem nenhuma pretensão ao desenvolvimento próprio?
Qualquer pensamento minimamente lúcido perceberá que esta é uma marcha contra o tempo e que, portanto, não pode avançar permanentemente contra ele.
A formação de uma crosta fanática e violenta na sociedade não tem a capacidade de oferecer soluções ao país. Nem mesmo um surto de reativação da economia, pela conjuntura mundial, parece, a esta altura, algo provável.
Sobra, a ela, um discurso e prática autoritários, que se espalha pelas instituições da República.
A demonização dos governos de esquerda – que, aliás, coincidiu com a adoção de políticas contracionistas como desde então temos – é, a rigor, ainda o único programa que a une e mobiliza.
Isso tem validade e ela está vencendo, a cada dia.
É duro suportar isso, porque se faz à custa de queimar gente, de juncar as calçadas de miseráveis, em voltar às cenas de crianças brotando como heras entre os carros nos sinais.
Os portugueses, na era das grandes navegações, chamavam de “a volta do mar” a rota que os afastava do litoral africano para escapar à corrente de Benguela, que, afinal, os trouxe até o Brasil.
Por vezes, um país afastar-se de seu destino é o caminho para chegar a ele.
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