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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Moro, o herói dos truculentos, agora critica a truculência?


fascio
Confesso que, por mais que seja a abjeta a humilhação imposta a alguém sem defesa (nem moral, nem física) mais preocupado que com Cabral fiquei com as reações de gente que, em condições normais de temperatura e pressão, é democrata e legalista.
Se as pessoas estão assim, é urgente que se compreenda o que as está fazendo ficar.
Nenhum de nós nasce civilizado, tornamo-nos por ação da sociedade e de seus aparelhos ideológicos: a família, a escola, a comunicação (literatura, jornais, tevês, ao menos em tese). Só em último caso a sociedade se vale de seus mecanismos repressivos para obrigar-nos às regras de convívio. O comum é que atuem aqueles mecanismos de persuasão e, sobretudo, o fato de que, sem comportamentos civilizados, não somos aceitos pelo grupo social.
Tudo isso e, também, séculos até chegarmos ao ponto que, em quase toda a parte do mundo, o respeito a dignidade intrínseca ao ser humano é sagrada.
Não é preciso ser sociólogo, psicólogo ou filósofo para ver que, de cima para baixo, estes modelos de convívio foram sendo quebrados e foi Sérgio Moro não apenas um dos que o fez mas, principalmente, aquele que foi erigido como modelo a ser seguido: o prende, humilha e, depois, condena.
Esse comportamento, afinal, fez diferença e o projetou – ao menos para uma camada de classe média cheia de recalques e louca para encontrar nos “corruptos” a fonte principal de um modelo econômico que as pauperiza e que nos desmancha como país.
Agora, Moro – que é o juiz responsável pelo preso Sérgio Cabral – quer saber porque cinco meganhas saíram das normas de condução de presos determinadas pelo  Supremo Tribunal Federal.
Ora, Dr. Moro, eles apenas seguiram o seu exemplo e inspiração. Não é o senhor que manda fazer “condução coercitiva”, com aparato bélico, a gente que nem intimada a depor foi? Não é o senhor quem viu culpa em Lula por ele não ter “pressionado” o STF a mandar prender logo quem ainda tivesse recurso tramitando, independente de trazer risco à sociedade? Não é o senhor que mantém na cadeia, por meses e até mais de ano, quem nem julgado foi? Não é o senhor que manda fazer escutas clandestinas ilegais, sem a ordem necessária de tribunal superior e, diante da crítica do Supremo, finge que concorda para, daí a pouco, dizer que é isso mesmo o que deveria ter feito?
Então, Doutor, além de intimar os meganhas, intime a si mesmo para explicar porque alguém tão cioso das leis e da moral se tornou o herói dos truculentos?

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