Ontem, Jair Bolsonaro comemorou no Facebook o “preenchimento” das vagas deixadas pelos cubanos no “Mais Médicos”.
Segundo ele, seria a prova de que “o acordo do PT era pretexto para financiar a ditadura membro do foro de São Paulo.”
Hoje cedo, O Globo mostrou – e destaquei aqui – que grande parte dos postos estavam sendo ocupados por médicos que já atuam no Programa de Saúde da Família em áreas do interior e, portanto, não serão “Mais Médicos”, mas os mesmos médicos.
E sabia-se que seriam grandes as desistências de médicos que se inscreveram mas que recuam quando vêem o grau de dificuldade da missão.
À tarde, a Folha confirmou isso.
Em Cametá, no Pará, dois dos cinco médicos já disseram que não vão: um reclamou do horário e do deslocamento e outro queria dicar “só até o ano que vem”. O “ano que vem” é daqui a um mês.
Em vários estados, ainda que aceitem as condições, será apenas cobrir um santo e descobrir o outro.
No Rio Grande do Norte, dos 139 médicos que se inscreveram no edital e que tiveram cadastro verificado, 98 já apareciam com vínculo dentro da rede, prestando serviços no Programa de Saúde da Família ou contratados pelos municípios. Sete em cada dez. No Acre, quase a metade. E o panorama se repete em vários outros estados.
O presidente eleito, com a sua irresponsabilidade, não consegue entender coisas óbvias e práticas.
Em nenhuma fase do “Mais Médicos” os médicos brasileiros deixaram de ter prioridade na ocupação das vagas. A seleção sempre os priorizou e médicos estrangeiros só eram chamados depois que as vagas “sobravam”. E o número de médicos brasileiros vinha crescendo, depois que se amenizou a forte resistência – aí sim, ideológica – ao programa.
É claro que todo mundo torce para que o maior número de vagas seja preenchido: afinal a cada uma delas correspondem milhares de pessoas que continuam a ter atendimento médico.
Exceto os que preferem uma “guerra ideológica no consultório”, como muitos bolsonaristas supunham haver.
Mas é bom o sr. Bolsonaro já ir se acostumando que não se governa com Twitter nem com leviandades. Existem centenas, milhares de profissionais médicos – e brasileiros, capitão – que estão, nos municípios, preocupadíssimos com a provável falta de médicos, seja por que os que entram no programa saem de sua rede de atendimento.
Faltam médicos para a atender as localidades pobres e isoladas, assim como faltam para atender nas periferias das cidades. Só não sabe quem nunca foi lá, tá ok?
Fonte Tijolaço
Por Madalena França
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