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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

A “entrevista” do general e o “no grito não funciona”


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Acompanho o debate no Facebook entre meu sábio professor Nilson Lage e o combativo Luís Costa Pinto sobre a “entrevista coletiva” (assim mesmo, entre aspas) do general Walter Braga Netto, ontem, que está lhe rendendo “pauladas” na mídia.
O primeiro lembra que, em matéria de autoridade moral na questão da violência, falta autoridade moral na imprensa  para tratar seriamente da questão, pela sua história de “criminalização” midiática de quase tudo que se tentou fazer para que a cidade se integrasse, sem guetos, e as iniciativas de elevar a qualidade de vida dos pobres, de D. Hélder Câmara até o programa educacional dos Cieps:
“O ódio editorial e notícias falsas sistematicamente veiculadas demoliriam o projeto dos Cieps de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, iniciativa que teria barrado o processo de degradação da vida urbana no io. Sucedeu-se a fraude midiaticamente promovida de Moreira Franco.
Por todo tempo, a grande imprensa apoiou os esquadrões da morte, escondeu a dolorosa remoção e extermínio de mendigos, explorou a pobreza sempre pelo ângulo da violência e da segregação, derramou pelas crianças pobres lágrimas de crocodilo mas sempre exigiu mais forte repressão – e só. Tudo que cuidou de exaltar foram operações espetaculares, cinematográficas, a fantasia de cobrir guerras e jantar em casa.”
Já Costa Pinto condena o comportamento dos militares e dos repórteres:
 Os militares demonstraram profundo desprezo pela informação e pela transparência. A entrevista deixou mais dúvidas do que ofereceu respostas – talvez porque a intervenção foi um ato de desespero político, e não um gesto em defesa da sociedade. [Foi] Desoladora porque revelou-nos uma geração de repórteres-cadete e de aspirantes a jornalistas que se acadelaram ante a boçalidade dos oficiais e aceitaram as regras impostas por eles – enviar perguntas antes, por escrito; definição randômica, por parte dos entrevistados, das perguntas que seriam feitas; proibição de interrupções; limitação unilateral do tempo.
Sem dar uma de tucano, acho que há razões em ambas as argumentações e explico.
Durante muitos anos fui responsável por convocar e realizar “coletivas”. É coisa de quem quer detalhar e convencer e, portanto, precisa e deve se expor ao contraditório. Não quer fazer isso? Distribua, então,  uma nota  ou uma declaração, não chame toda a imprensa para simplesmente dizer – por mais que seja a verdade – que está planejando (sem dizer o quê) e para anunciar nomes que há dias estavam nos jornais.
É, aliás, o mais próprio numa instituição militar.
Acontece que se revela aí o problema mais grave, insanável mesmo, deste improviso politiqueiro da intervenção.
O Comandante do Exército, General Eduardo Villas Bôas, insistentemente no Twitter e em artigo na Veja que “convém salientar que a intervenção federal não é uma intervenção militar” e que apenas “um cidadão brasileiro fardado foi escolhido para exercer a função de interventor”. A concordar com o general, portanto, o interventor, ao contrário do que diz decreto improvisado que o nomeou não está em função militar, pois seria um interventor militar e, assim, resguardado para dizer o mínimo possível.
Se a intervenção não é militar, é civil. Não há, como na virgindade ou na gravidez, “meio” militar, há um militar exercendo excepcionalmente uma função civil. Isso  passa a exigir comunicação com a sociedade. E nada justifica uma “entrevista coletiva” que não foi nem entrevista – só se responde àquilo que se quis responder – e nem coletiva – só se respondeu a quem se quis responder.
É preciso, claro, entender que Braga Netto é alvo de pressões imensas, que não pode revelar, ainda que o Comandante do Exército esteja indo além do que pode e deve para protegê-lo e à tropa das consequências da vontade insana que vem do Planalto para que torne irresponsavelmente a Força em órgão de repressão sem limites.
O general foi coerente com o que pode fazer num momento em que – segundo suas próprias palavras – a violência no Rio de Janeiro é grande, mas imensamente amplificada por “muita mídia”. E penso que o que falou sobre a insistência de alguns repórteres de fazer outras perguntas fora do roteiro que o próprio Braga Netto escolheu – “no grito a coisa não funciona” – se presta como uma luva para explicar porque não optou, até agora, por ações espetaculares, bombásticas e, claro, inócuas, como é o desejo das empresas de comunicação, Globo à frente.
Mas incoerente na formas e nas regras que quis impor a uma entrevista da qual – e aí Costa Pinto tem toda a razão – na minha geração, a dos anos 80 e 90, teriam todos (ou quase todos) os jornalistas saído, abandonando a sala, por não haver nem liberdade nem um mínimo de pluralidade nas perguntas. Afinal, não era uma solenidade militar, não se é obrigado a bater os calcanhares e levar a mão ao quepe.

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