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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Mesmo com esquemas e contas na Suíça, Paulo Preto não foi “incomodado” pela Lava Jato


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Da Redação do Viomundo
O Palácio dos Bandeirantes está nervoso. É que Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, chegou à Desenvolvimento Rodoviário S/A, a Dersa, pelas mãos de Geraldo Alckmin, em 2005, às vésperas do tucano se tornar candidato ao Palácio do Planalto.
Alckmin disputou as eleições presidenciais contra Lula, em 2006. Não se sabe, ainda, se Paulo Preto atuou fora de sua esfera para ajudar nas finanças da campanha.
Paulo Preto assumiu inicialmente a diretoria de Relações Institucionais.
Em 2006, já com José Serra no governo, passou à diretoria de Engenharia, que tocou as obras que serviram de vitrine para o tucano na campanha de 2010: ampliação da marginal do Tietê, do complexo viário Jacu Pêssego (zona Leste da capital) e a construção do eixo Sul do Rodoanel.

As duas primeiras obras tinham grande importância eleitoral, por serem utilizadas por milhões de motoristas de São Paulo.
A construção do Rodoanel, que serve especialmente àqueles que querem evitar o trânsito da região mais central da capital paulista, apareceu em vídeos da campanha eleitoral de Serra para “provar” a capacidade administrativa do tucano.
Mas, as denúncias apresentadas pelo MPE de São Paulo (ver íntegra abaixo) sugerem que Paulo Preto montou esquemas para desviar dinheiro utilizando familiares e amigos nas três obras.
As denúncias, no entanto, cobrem apenas a atuação local de Paulo Preto, já que eventuais desvios que impliquem em remessas de dinheiro para fora do Brasil — R$ 113 milhões dele foram localizados na Suiça — caem na esfera federal.
O avanço de apurações em São Paulo, dizem fontes ligadas ao MP, pode ficar condicionado a interferência política.
Paulo Preto serviu como assessor especial da Presidência no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, levado ao cargo pelo hoje chanceler Aloysio Nunes Ferreira, aliado próximo de Serra.
Aloysio foi chefe da Casa Civil no governo Serra.
Em 2007, Aloysio recebeu um empréstimo de 300 mil reais de uma filha de Paulo Preto para comprar um apartamento, que diz ter pago, mas sem juros.
Uma das filhas de Paulo Preto é a advogada Priscila Arana de Souza Zahan. Ela trabalhou como advogada em um escritório que representava empreiteiras contratadas em obras que o pai tocava enquanto diretor da Dersa, segundo denúncia da bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Tatiana Arana Souza Cremonini, outra filha de Paulo Preto, foi contratada como assistente técnica de gabinete de Serra. O decreto foi assinado em 29 de janeiro de 2007. Com salário de R$ 4.595, mais com gratificações, a jornalista atuava no cerimonial.
Ela já havia trabalhado anteriormente em um cargo de confiança da SPTuris, quando Serra foi prefeito de São Paulo.
Tatiana é casada com Fernando Cremonini, que foi sócio da mãe de Paulo Preto, Maria Orminda Vieira de Souza, na empresa Peso Positivo, que foi subcontratada pelo consórcio Andrade Gutierrez-Galvão na construção do lote um do Rodoanel Sul.
Tatiana responde com o pai a uma ação pública do MPE, segundo a qual ela contribuiu para a criação de cadastros fictícios de moradores no Programa de Compensação Social e Reassentamento Involuntário da Dersa.
A fraude permitiria a pessoas não afetadas pelas obras receber indenização como se fossem.
Darci Hermenegilda dos Santos, que prestou serviços domésticos na casa de Tatiana, ganhou uma casa de ‘indenização’, apesar de não morar na região das obras.
O Rodoanel foi a grande obra dos tucanos em São Paulo. Mário Covas lançou o edital prevendo que custaria menos R$ 10 bilhões (valores atualizados). Quando o trecho Norte acabar, a obra terá custado mais de R$ 25 bilhões.
As empreiteiras “racharam” a obra entre si e contribuiram enormemente para os caixas de campanha dos tucanos, paulistas.
Só a Odebrecht diz que deu mais de R$ 50 milhões a José Serra.
O Cade, Conselho Administrativode Defesa Econômica, investiga a formação de cartel para a construção do trecho Sul do Rodoanel, iniciado pelas gigantes Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Odebrecht e Queiroz Galvão, ao qual aderiram depois outras empresas.
Os contratos se referem ao período que cobre o período de junho de 2004 a abril de 2007, cobrindo portanto os períodos dos governos Alckmin e Serra.
Quando dirigia o setor de Engenharia da Dersa, Paulo Preto era responsável pelas medições, ou seja, pela constatação de que as obras estavam sendo feitas de acordo com o planejado, o que garantia novos desembolsos de dinheiro público.
No ano passado, a Justiça determinou a destruição das provas da Operação Castelo de Areia, deflagrada em 2009.
Ela focou na contabilidade paralela da empreiteira Camargo Corrêa, apreendida pela Polícia Federal.
Foi a primeira vez que o nome de Paulo Preto apareceu numa investigação.
Numa das anotações, abaixo do “acordado com Paulo Souza”, há a menção a quatro pagamentos de R$ 416 mil, a partir de 20.12.2007, referentes à obra do Rodoanel.
Noutra, há referência a um pagamento de R$ 120 mil relativos à décima sétima medição da obra do Rodoanel, em dezembro de 2008.
Há também menção a um convênio entre a Prefeitura Municipal de São Paulo e a Dersa para a construção de um túnel na avenida Roberto Marinho (que, aliás, nunca saiu), com dois pagamentos de R$ 600 e R$ 650 mil em fevereiro e março de 2009.
Não se sabe se os pagamentos, que somam cerca de R$ 2,6 milhões, foram de fato feitos. Mas é possível extrair das provas a dimensão das propinas que a Camargo Corrêa anotava em sua contabilidade paralela.
Há menções nos papéis apreendidos à obra da linha 4 do Metrô paulistano, tocada por Alckmin e Serra.
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Numa planilha, sem data, os pagamentos atribuídos ao PSDB somam mais de R$ 13 milhões.
Alckmin teria recebido a maior parte, mais de R$ 5 milhões. São mencionados ao lado dele um certo Ademar, a CCR — empresa que tem concessões para cobrar pedágio em rodovias de São Paulo –, o diretório do PSDB no Pará, “Textil”, a CESP e Mauro Arce, que foi secretário de Energia de Mário Covas, de Transporte de Serra, presidente da Sabesp, diretor e presidente da CESP.
Serra, segundo a planilha, teria recebido mais de R$ 4 milhões. O nome dele aparece ao lado do publicitário Luiz Fernando Furquim, já falecido, homem de confiança do tucano; de Rodoanel, Textil, Montoro, “jantar”, e transferências ao PPS e a Afif e Aldo — que podem ser Guilherme Afif Domingos e Aldo Rebelo.
Os nomes de Garibaldi Alves Filho, Cássio Cunha Lima, Yeda Crucius e Aécio Neves também aparecem na planilha.
Tudo indica que as doações se referem ao período que precedeu as eleições de 2010, quando todos foram candidatos.
Pelo levantamento da Castelo de Areia, a empreiteira contribuiu com dezenas de candidatos de praticamente todos os partidos no poder, em troca de obras municipais, estaduais e federais.



Apesar deste conjunto de informações ser pública e demonstrar a importância de Paulo Preto no ninho tucano, ele não sofreu condução coercitiva e permanece livre, leve e solto.
Veja os documentos dos esquemas de Paulo Preto:
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