Não precisou nem uma semana desde a eleição de Bolsonaro para que a indústria brasileira e o agronegócio do país se vissem, depois do apoio entusiasmado ao ex-capitão, como grandes perdedores, às portas de uma derrota histórica; a sucessão de declarações, estudos em andamento e movimentos de Bolsonaro, de Paulo Guedes são múltiplos: ataques e ameaças à China e ao Mercosul, os grandes mercados para os produtos brasileiros; extinção do Ministério da Indústria e do Comércio (MDIC); e, por fim, a extinção gradual do BNDES
1 DE NOVEMBRO DE 2018 ÀS 16:57 // INSCREVA-SE NA TV 247
247 - Não precisou nem uma semana desde a eleição de Bolsonaro para que a indústria brasileira e o agronegócio do país se vissem, depois do apoio entusiasmado ao ex-capitão, como grandes perdedores, às portas de uma derrota histórica.
A sucessão de declarações, estudos em andamento e movimentos de Bolsonaro, de Paulo Guedes e outros membros do "núcleo duro" do bolsonarismo estão abalando os alicerces sobres os quais repousou o desenvolvimento industrial e agrícola do país nos últimos anos: ataques e ameaças à China e ao Mercosul, os grandes mercados para os produtos brasileiros; extinção do Ministério da Indústria e do Comércio (MDIC), absorvido pelo novo super Ministério da Economia sob comando de Paulo Guedes, homem do mercado financeiro; e, por fim, a extinção gradual do BNDES.
O novo superministro, Paulo Guedes, com quem apenas Sergio Moro rivalizará em poder na Esplanada dos Ministérios, não esconde que atuará no governo como um delegado dos interesses dos Estados Unidos e dos bancos. Na entrevista que concedeu no anúncio de seu nome como ministro da Economia, ele atacou diretamente os industriais brasileiros, ao dizer que a nova Pasta será usada para desmontar o "sistema de lobby e protecionismo que atrapalha o desenvolvimento da indústria nacional". E completou: “Vamos salvar a indústria brasileira, apesar dos industriais brasileiros”,
A visão de Guedes sobre o Ministérios da Indústria e Comércio deixou os empresários estupefactos: "O Ministério de Indústria e Comércio acabou se transformando numa trincheira da Primeira Guerra Mundial. Eles estão lá com arame farpado, lama, na trincheira, buraco, defendendo às vezes protecionismo, subsídios, desonerações setoriais. Coisas que prejudicam a indústria brasileira. Em vez de lutar por redução de impostos, simplificação de impostos e uma integração competitiva na economia internacional".
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reagiu criticando a decisão do governo, afirmando que a medida vai contra a tendência mundial.
"Tendo em vista a importância do setor industrial para o Brasil, que é responsável por 21% do PIB nacional e pelo recolhimento de 32% dos impostos federais, precisamos de um ministério com um papel específico, que não seja atrelado à Fazenda, mais preocupada em arrecadar impostos e administrar as contas públicas", afirmou na nota o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade -que apoio o golpe de Estado contra Dilma Roussef, apesar de todo o desenvolvimento da indústria nacional sob os governos do PT e, nas eleições, apoiou Bolsonaro contra Haddad.
Ao mesmo tempo, saíram à luz nesta quinta-feira os estudos da equipe econômica de Bolsonaro para sufocar o BNDES gradualmente até sua possível extinção, no fim do governo (aqui). O banco, desde sua fundação em 1952, é estratégico para o desenvolvimento nacional, e opera com financiamentos de longo prazo para a realização de investimentos em todos os segmentos da economia. Sua extinção significaria entregar a indústria o agronegócio nas mãos dos bancos privados.
Na véspera de seus ataques aos industriais, Guedes havia atacado o Mercosul com virulência. Em sua visão, o Brasil “ficou prisioneiro de alianças ideológicas” e o Mercosul seria um símbolo disso. “Você só negocia com quem tiver inclinações bolivarianas. O Mercosul foi feito totalmente ideológico. É uma prisão cognitiva”, disse.
As afirmações também espantaram industriais, ruralistas e economistas, pelo grau de desconhecimento em relação à relevância do Mercosul para a economia brasileira. O Mercosul, em especial a Argentina, é o destino de 10% das exportações brasileiras, num intercâmbio comercial no qual o Brasil é amplamente superavitário. Em 2017 as exportações brasileiras para os demais países do bloco totalizaram US$ 22,6 bilhões, enquanto as importações de produtos procedentes dos países parceiros do bloco significaram US$ 11,9 bilhões – um superávit de US$ 10,7 bilhões. Ainda mais: 85% das exportações brasileiras para os países do bloco é de produtos industrializados, manufaturados e semi-manufaturados, ou seja, produtos com maior valor agregado, que geram emprego, trabalho e renda. É o oposto do comércio que o Brasil mantém com o resto do mundo, cuja pauta exportadora é de matérias-primas e commodities.
Da mesma maneira, os seguidos ataques de Bolsonaro à China são incompreensíveis, exceto pelo viés ideológico. O país é o maior parceiro comercial brasileiro e quase a metade de todo o do superávit comercial global do país vem das relações com os chineses: 32 bilhões de dólares em 2017. A China, que vinha se mantendo calada, reagiu nesta quarta-feira (31) aos ataques de Bolsonaro num editorial do China Daily, jornal que funciona como porta-voz informal do governo (aqui). O texto trouxe uma advertência clara: um eventual giro da política externa brasileira para uma submissão aos Estados Unidos pode representar um "o custo econômico duro para a economia brasileira".
Enquanto os industriais e os ruralistas inquietam-se e os parceiros comerciais brasileiros manifestam preocupam, os Estados Unidos e os banqueiros comemoram. O primeiro encontro de Bolsonaro com foco internacional nesta quinta será exatamente com o embaixador americano no país, Michael McKinley (aqui).
Enquanto isso, os banqueiros derramam-se em elogios a Bolsonaro. O Banco Itaú mandou correspondência a todos os seus clientes manifestando apoio à agenda econômica do novo presidente. O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, celebrou a agenda econômica de Paulo Guedes como sendo "aquilo que é desejado por todos".
Fonte 247
Madalena França.
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