“Eu não sou um político que minto”, disse Sérgio Moro, ontem à noite, no Fantástico, para, 30 segundos depois, corrigir-se: “Não sou um nenhum político e não minto”.
Nas velhas proposições de lógica, o Doutor Moro teria dado um belo exemplo para aquelas regras de “verdadeiro” ou “falso”. Na prática, porém, produziu uma dupla convicção: é político e mente.
Tudo o que Moro faz é mentiroso e seus próprios atos e palavras o provam.
Diz que não está agindo como juiz e integrante do futuro Governo, mas escolhe dar entrevistas sobre seus projetos e planos dentro de seu gabinete na 13ª Vara Federal, de onde se lançou para o cargo que agora vai ocupar.
Aliás, como bom político, já deu mais entrevistas que o próprio presidente eleito, inclusive a coletiva onde expôs seus planos em pleno auditório da Justiça Federal do Paraná.
Nota-se, por aí, que Sua Excelência “não mistura as estações”, não é? O decoro mandou lembranças…
Na entrevista ao Fantástico, porém, Moro foi além da hipocrisia – “nunca vi uma proposta discriminatória do sr. Presidente eleito” – e da pretensão de ser o “conselheiro de assuntos autoritários” de Jair Bolsonaro, como a “licença para matar” dos policiais, a redução da maioridade penal e a liberação da posse de armas.
Arrogou-se o papel de “juiz do Governo”, ao dizer que fará, para Bolsonaro, o “juízo de consistência” de eventuais denúncias contra integrantes da administração federal. Claro está que com rigor muito menos intenso que o praticado quando eram seus adversários que estavam em causa: já decretou o perdão, por exemplo, de Onyx Lorenzoni, recebedor confesso de “caixa 2”, mas remido pela confissão e, segundo a Globo, por já ter doado metade do dinheiro irregular para a caridade.
E, de novo, traiu-se ao afirmar – e em seguida desmentir – que esta tivesse sido uma imposição sua ao Presidente eleito para assumir o cargo:
O que me foi assegurado e é uma condição… Não é bem uma condição, não fui lá estabelecer condições. Mas eu não assumiria um papel de ministro da Justiça com risco de comprometer a minha biografia, o meu histórico. Isso foi objeto de discussão e afirmação do senhor presidente eleito, que ninguém seria protegido se surgissem casos de corrupção dentro do governo.
O “não político” que “não mente” mal se contém diante da perspectiva de poder que lhe está aberta e não disfarça o julgamento que tem de sua “superioridade moral e intelectual” sobre o presidente eleito. Conta que será vencedor em qualquer hipótese: ou reunindo cacife para ser o próximo Presidente ou, se as coisas “derem errado”, sair do Governo em troca de uma cadeira no Supremo.
Moro, o homem que quer ser rei, está esquecendo, porém, que o poder tem suas regras. E a primeira delas é que nem sempre a sorte está ao lado do ambicioso.
Madalena França Via Tijolaço
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