Ontem foi afixado nas escadarias, elevador e quadro de avisos uma carta anônima ameaçando discentes, docentes e a direção da Universidade de Pernambuco (Campus Mata Norte). O documento cita nominalmente alguns cursos e professores, com intimidações sobre a possibilidade de vigilância e de repressão as suas atividades ou temas de pesquisa. Os últimos dias têm sido difíceis pelas constantes incertezas nas universidades, em certa medida incentivadas pelo discurso de ódio pós-eleição. No entanto, enquanto um dos docentes citados na carta, posso afirmar que não nos calaremos, não recuaremos um centímetro dos nossos ideais e da nossa forma de construir uma educação libertadora e problematizadora. Cartas anônimas e ameaças não nos intimidam, na verdade, ontem entrei para a minha aula de História do Brasil República fortalecido, com a certeza que fiz a escolha certa e que tenho muito a contribuir. Nunca deixarei de problematizar os eventos em torno de 1964 (como a carta acusa), ou qualquer acontecimento histórico, com base nas fontes e em uma historiografia sempre atualizada. As minhas falas não têm como pauta as ideias de um “mito”, mas uma ciência que é mágica e encantadora: a História. Nunca omiti os meus posicionamentos e as minhas defesas, não tenho motivos para fazer isso, vivemos em uma democracia que preza pela liberdade de expressão e tenho garantido pela Constituição Federal e a LDB (Lei nº. 9394/96) a liberdade de cátedra e produção do conhecimento. Gosto sempre de lembrar que “Em nome do respeito que devo aos alunos não tenho por que me omitir, por que ocultar a minha opção política, assumindo uma neutralidade que não existe. Esta, a omissão do professor em nome do respeito ao aluno, talvez seja a melhor maneira de desrespeitá-lo. […] É assim que venho tentando ser professor, assumindo minhas convicções, disponível ao saber, sensível à boniteza da prática educativa […]”. (FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 71). Ontem, mais do que nunca, tive a certeza de que não estou só nesta caminhada. Muito obrigado pela solidariedade, pelas mensagens, ligações, abraços e afetos. Aos fascistas, aos defensores da barbarei, do terror e do ódio, não nos calaremos. Continuaremos firmes por um mundo melhor e pela democracia plena, continuaremos firmes pela possibilidade da existência do contraditório. Lembrem-se: “Verás que um professor não foge à luta”. Sigamos em frente e de cabeça erguida...
Opinião: Sou professora de História e ando muito preocupada com os rumos que o Brasil tomou. Faço minhas as palavras do professor. Eu prefiro desistir da profissão do que negar a História e meus valores. Temos que dá ao aluno direito a livre manifestação. Mas isso não é Escola Sem Partido. Muito pelo contrário é escola de um partido opressor e ditatorial.
Por Madalena França
Sem comentários:
Enviar um comentário