O deputado federal Enio Verri (PT-PR) escreve que do começo ao fim do desfile, no Carnaval do Rio, a Globo se desconcertava na transmissão ao vivo à medida que se enxergava refletida no samba-enredo da Paraíso do Tuiuti.
O grito da Tuiuti e o silêncio da mídia golpista
Enio Verri*
“Meu deus, me deus, está extinta a escravidão?” Uma pergunta e uma reflexão necessárias quando se trata de um país onde a escravidão oficial acabou há cerca de 130 anos. Já a escravidão real registrou, em 2015, século 21, 150 mil CPFs e CNPJs donos de mão de obra escrava. O arrependimento do capitão do mato fica por conta da otimista alegoria poética do carnaval. No mais das vezes, o braço armado do Estado massacra a população herdeira dos libertos de 1888. O G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti lavou a alma brasileira ao desnudar e denunciar a sociedade escravocrata brasileira e o golpe de 2016, com os patos paneleiros.
Curioso notar que o braço armado não representa a classe que defende. Protegem dos pobres, ou de remediados quanto eles mesmos, uma classe para quem não passam de fiéis cães de guarda da mansão em que dormem no quintal. A Casa Grande ainda não foi devidamente demolida, até virar pó. Foi preciso que partidos políticos provocassem STF com ações de questionamento de constitucionalidade à Portaria do Ministério do Trabalho, que flexibilizava as características de condições de trabalho análogo ao da escravidão. O estarrecedor, o desumano, é a iniciativa do governo estimular o uso do trabalho escravo.
E é exatamente o que os trabalhadores estão vivendo. Em 2017, apensar de todo o esforço contrário da oposição, a reforma trabalhista foi aprovada. Desde então, empresas dos mais diversos ramos estão demitindo para contratar sob as novas desregulamentações. A regra do Acordado sobre o Legislado e a modalidade de contratação intermitente são duas maneiras eficazes para se acabar com a Previdência. Empresas terceirizadoras demitem e recontratam os servidores sem o devido recolhimento para o INSS. Sob o aviltante salário do Contrato Intermitente, o trabalhador não terá como recolher para a Seguridade Social, contribuindo para o seu colapso.
Do começo ao fim do desfile, a empresa de comunicação que o transmitiu se desconcertou à medida que se viu refletida no samba enredo da Tuiuti. Estamos historicamente ligados à escravização africana. Porém, a escravidão contada pela escola vai além convencional. Ela também se dá pela subordinação do cérebro a uma forma de pensamento, sem questionamento. Essa é uma das mais cruéis servidões. A opção por não se informar além do que a maior rede de comunicação do País oferece, pode fazer alguém se parecer com um pato vestido com a camisa da Seleção Brasileira, com uma panela e uma colher nas mãos, ma-ni-pu-la-do por em cordas de marionete.
Foi isso que a Tuiuti demonstrou e que calou a Rede Globo, envolvida até o duodeno no processo de convencimento da população a apoiar o golpe contra a democracia e contra a presidenta Dilma Rousseff. Para ganhar a população, estabeleceu-se uma sistemática difamação do Partido dos Trabalhadores, da presidenta e do ex-presidente Lula. Estimulada pela mídia, parte da população foi às ruas, supostamente indignada contra a corrupção, mas mortalmente contaminada de ódio contra a esquerda. A fotografia histórica foi feita pela Tuiuti, com a Ala “Manifestoches”.
O desfile da Tuiuti foi dedicado à classe que produz as riquezas de toda e qualquer nação, a trabalhadora, explorada pelos donos dos meios de produção. Infelizmente, boa parte dos trabalhadores brasileiros ainda vive num cativeiro mental que não lhe permite enxergar a contradição entre o que a mídia diz do PT e o que ele fez, em 13 anos. Gostando dele ou não, foi esse partido que tirou o Brasil do Mapa da Fome, depois de quase 130 anos de República. A Casa Grande não aceita que pobres ocupem lugares de decisão política. Nesse sentido, a criação de centenas de institutos federais e de dezenas de universidades é um perigo para a ordem.
A escola teve a coragem de denunciar o golpe e o artífice por trás de tudo. Temer figurou como um vampiro com a gola da roupa feita de dólares. A caracterização foi precisa. Um ser das trevas, sem apoio popular, que trai a nação e entrega as riquezas energéticas e as empresas estratégicas para nações centro de poder. Esse é o projeto de País da elite brasileira de gente igual ao Temer, ser colônia de países onde gostaria de ter nascido. Oxalá a Tuiuti tenha conseguido fazermos compreender que se trata de uma luta de classes. De um lado estão mais de 85% da população, os escravizados de todas as épocas. Do outro, 15%, os donos dos meios de produção. De que lado estamos? A Tuiuti colocou na avenida o que a população tem denunciado nas ruas.
*Enio Verri é deputado federal pelo PT do Paraná.
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