Inteligência e trajetória sobram a Mino Carta para que se lhe reconheça lógica em tudo o que diz.
Outra coisa é a viabilidade disso mas, convenhamos, se aos 84 anos um homem desaprendeu de sonhar como os jovens, saído do deserto da era em que, mal ou bem, temos de vestir, alimentar e dar escola aos miúdos, é porque já deixou a vida e trata, burocraticamente, de arrumar os papéis para quando se for.
Numa larga metáfora, lembro-me de Barbosa Lima Sobrinho, o “Doutor Barbosa” que um um di, aos 80 anos, em plena ditadura, atendeu ao convite de quem escreve esta lembrança e seus agitados colegas de primeiro ano de Faculdade para nos falar daquilo que, Congresso ffechado pelo “Pacote de Abril” era inviável tanto quando inevitável: a retomada da democracia e as eleições diretas para Presidente.
Por isso, vale muito a sua pensata, hoje, em que aponta o ex-chanceler Celso Amorim como alternativa à impossibilidade de Lula ser o candidato.
Tem dois significados, sim: o primeiro é evidenciar quão desastrosa tem sido a pueril estratégia de Ciro Gomes ao criar obstáculos ao que seria o caminho natural diante de um impedimento de Lula. O segundo, o de que o Brasil não pode ser governado por alguém de mentalidade “acapirada”, que dê valor absoluto aos arranjos da política sem perceber que, inescapavelmente, os nossos problemas locais estão amarrados por um justo nó à inserção do Brasil no mundo.
Vale, portanto, a leitura de Mino.
A escolha certa
Mino Carta, na CartaCapital
Segundo as pesquisas, quem Lula apoiar ganha a eleição. Meus botões e eu sugerimos Celso Amorim
Espera aí, dizem meus botões, e se houver eleições? Ocorre que eu tenho manifestado dúvidas a respeito com alguma frequência, movido pela inescapável conclusão de que os golpistas não têm candidato para a Presidência da República.
Para evitar a debacle que seriam capazes de inventar? A enésima exceção, mandar às favas o calendário eleitoral.
Olhai, insistem os meus infatigáveis interlocutores, quantos golpistas já se preparam para o pleito, a começar pelos mais graúdos, por exemplo Henrique Meirelles, graniticamente certo de ganhar a próxima convenção do MDB.
Há golpistas aos magotes entre governadores e parlamentares a mirar na reeleição, e outros tantos empenhados em burilar suas candidaturas.
Sugiro reflexão. E o deus mercado que opina? Pois é, informam os botões, há um pessoal da grana que propõe Geraldo Alckmin como candidato único de tucanos e emedebistas, ou seja, a fina flor do poder econômico acredita em eleições.
O próprio ex-governador de São Paulo admite que sua cotação nas pesquisas é baixa, mas prevê a virada com o começo oficial da campanha eleitoral.
E que esperar das gloriosas Forças Armadas?
Muitos comentaristas europeus aventam a hipótese de uma intervenção militar. Comentam os botões: não faltam decerto fardados, e de pijama, saudosos de 1964, parece, contudo, que no momento a caserna prefere não se haver com pepinos.
Então, observo com aparente resignação, vamos aguardar a chegada de um capitão, o Bolsonaro admirador de Tio Sam e recém-convertido ao deus mercado.
É cedo, é cedo, é muito cedo, cantarolam os provocadores, e me lembram o coelho do País das Maravilhas visitado por Alice, aquela meninota atrevida.
Explicam: à parte o fato de que na próxima semana discute-se em petit comité da casa de diversões chamada STF a prisão de Lula em segunda instância, as pesquisas atribuem ao ex-presidente uma qualidade formidável: quem ele apoiar, mesmo da cadeia, tem imponentes possibilidades de levar o próximo pleito.
Depende de quem ele escolher, atalho. E o diálogo se encerra.
Lula continua bem à frente nas pesquisas, soa impossível, porém, que a casa-grande desista do objetivo determinante do golpe, interditar de vez a candidatura do ex-presidente. Mesmo assim, ele continua a ser decisivo, se souber apoiar o candidato certo. Talvez pudesse ser Ciro Gomes, não tivesse ele tomado posições que magoaram Lula profundamente.
Como sabemos, nem sempre o único líder brasileiro de dimensão nacional na hora das escolhas esteve à altura do seu extraordinário faro político, do seu elevado QI e da força que lhe confere a consistente popularidade.
Quem poderia ser hoje o candidato de Lula?
Meus botões e eu nas fileiras do PT só enxergamos duas figuras relevantes, sem contar o senador Roberto Requião, que, sem ser do PT, por suas ideias e posturas figura à esquerda da larga maioria dos petistas.
Os botões me puxam pelos punhos da camisa.
Está certo, falemos dos tais personagens que se impõem à nossa atenção, dois somente.
Um deles, Jaques Wagner, já está fora do páreo, prefere reeleger-se para o Senado.
O outro chegou a cogitar de sua candidatura à governança do Rio, mas logo desistiu.
Celso Amorim, ex-ministro de Lula e Dilma Rousseff, intelectual de fina estirpe e cavalheiro incorruptível.
Como chanceler foi quem mais claramente contribuiu para projetar internacionalmente o País, a ponto de ser reconhecido como o mais importante ministro do Exterior do mundo no seu tempo.
Diplomata de princípios firmes, ponderado, embora de crenças inabaláveis.
Este seria um grande presidente no momento de reconstruir o Brasil.
Madalena França via tijolaço.
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