Ninguém pode alegar surpresa diante dos números publicados pelo jornal O Globo que mostram o absoluto fiasco da “jogada de mestre” de Michel Temer decretando a intervenção militar – “federal” é um eufemismo – no Rio de Janeiro.
Os indicadores de ações policiais necessárias, como as prisões, apreensões de fuzis (- 39%) e demais armamentos caíram.
Os de mortes violentas aumentaram e, entre elas, as provocadas por policiais, dispararam: 17, 3% a mais, ou 52 cadáveres. Nas contas ainda não está o do menino da Maré, morto gratuitamente, de uniforme escolar, quando voltava para casa, de uma escola imersa em meio aos tiroteios de uma operação policial que resultou em sete mortes.
Outros números são igualmente apavorantes: “com base nos dados do aplicativo Fogo Cruzado, os tiroteios aumentaram durante a intervenção: chegaram a 3.210, contra 2.355 no quadrimestre anterior”, registra o jornal. Isto quer dizer absurdos 36% de trocas de tiros a mais, com a população na linha de, digamos, “balas perdidas”.
Não pode ser surpresa porque, há quase 15 anos, de tempos em tempos, faz-se a mesma mobilização militar que, claro, sempre resultou nisso.
A “percepção de segurança” para parte da classe média aumenta. Há 15 dias, quem passesse pela orla de Copacabana veria rapazes do Exército de farda camuflada e fuzis à mão. ´Para além da “psicologia” e da propaganda, claro, o efeito é zero.
Não é o mesmo, porém, para as pessoas simples e indefesas que moram nas comunidades pobres, onde se fazem cercos, tiroteios e se criam barreiras, não raro com humilhações. Claro, dentro da “cidadania”, porque o jovem cabo ou sargento, aos berros, ordena: “encosta na parede, cidadão”; “abre as pernas, cidadão”…
Se os resultados imediatos são zero ou ainda menos que isso, porém, a médio prazo se terá outro, terrível.
Como quase toda a tropa empregada nestas operações é de conscritos, que em poucos meses estará dispensada, alguém pode imaginar o que farão aqueles jovens, despidos das fardas e de volta a seus “uniformes de bermuda, chinelo e boné?
Antes mesmo da intervenção militar já é imenso o número de rapazes que, familiarizados com o uso de armas pesadas e outras técnicas militares vão se alistar, “qualificados” como soldados do crime.
A Forças Armadas estão sendo usadas como “bucha de canhão” pela mídia e pelos políticos que as empurram para este papel perigoso. A parte da oficialidade que o percebe fica importente, porém, diante de gente histérica que exige que ela se exponha por nada. E a parte primária se satisfaz, porque não consegue perceber que, em lugar de termos militares tecnologicamente bem equipados e políticas de defesa e de equilíbrio de forças no continente – a Colômbia, maior tropa “per capita” da América do Sul está ingressando na OTAN, esqueceram? – prefere falar em “bolivarianos” e outras bobagens e se distrair com brincadeiras macabras.
Como, por exemplo, a de brincar de “polícia e bandido”.
Madalena França.
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