A Coluna de Reinaldo Azevedo na Folha de S.Paulo aborda a questão dos brasileiros que assediaram russas fazendo com que as mulheres falassem palavras de baixo em português sem entender o idioma. “No país em que publicitários vendem o ‘cimento do saco roxo’ e em que letras de funk fazem a apologia da violação coletiva das ‘novinhas’, o despropósito talvez pareça integrar um paradigma cultural. Pergunta à margem: por que os progressistas em geral, e as feministas em particular, nunca se incomodaram com a “cultura do estupro” que impera no funk?”, pergunta o colunista.
Reinaldão, no entanto, aproveita para criticar a direita que ele chama de “xucra” e defender os “liberais”, que ele diz que se enquadra.
“A luta da direita liberal no Brasil será longa. Somos poucos. Ainda não lotamos uma van, sucedânea das Kombis. Infelizmente, o que se tem caracterizado por aqui como ‘direita liberal’ reúne malcriados em sentido amplo: faltam-lhes leitura, reflexão e bons modos. São, na verdade, reacionários. Estão empenhados em fazer o país andar para trás no que respeita aos direitos individuais, ainda que revistam seu antiliberalismo com memes de combate às esquerdas. Parte considerável da crise política que vivemos se deve ao triunfo, no pós-PT, do iliberalismo, de que a Lava Jato —cheguei a ela!!!— é hoje a expressão mais virulenta. Deixou de ser a ação do Estado legal contra a corrupção para se tornar um projeto de poder ancorado na ilegalidade e na supressão de garantias individuais. Numa contradição só aparente, os Torquemadas da operação no STF são dois ministros oriundos da extrema esquerda: Edson Fachin e Roberto Barroso”.
E ele critica a direita que usa o argumento “contra o politicamente correto” para defender os assediadores das russas. Reinaldo Azevedo acha que devemos procurar o “politicamente adequado”. Ele se coloca como moderado nessa discussão comportamental.
“Junto os fios e volto aos vídeos. É um deboche incluir aquelas manifestações no capítulo da liberdade de expressão ou no dos excessos do ‘politicamente correto’. É preciso, diga-se, aposentar essa expressão para que seu oposto, o ‘politicamente incorreto’ —mera contrafação de um pensamento realmente livre—, não tente se impor como norma. Releguemos as duas categorias à metafísica possível de humoristas de stand-up, que ganham seus belos trocados excitando o riso furioso e ignorante dos já convertidos. Proponho a categoria do ‘politicamente adequado’. Inovo, assim, apelando ao antigo que liberta: São Paulo, o apóstolo. Posso tudo, mas nem tudo me convém. A liberdade de expressão é irmã gêmea da tolerância e do reconhecimento da existência do ‘outro’, nunca da intolerância, do ódio e da agressão aos vulneráveis”, explica.
E Reinaldão finaliza: “encerro com uma ilustração eloquente. Quem emprega ‘judiar’ como sinônimo de ‘maltratar’ não está necessariamente praticando antissemitismo. Se, no entanto, conhecer a origem da palavra e insistir no seu emprego, aí se trata de antissemitismo. Simples assim”.
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