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quinta-feira, 7 de junho de 2018

O Brasil no buraco é o Brasil do buraco



infraest
Fiz uma viagem de automóvel ao Sul  em 2003, ano da posse de Lula, que recebeu o país de Fernando Henrique Cardoso numa situação de penúria e cortes de investimentos semelhante à de hoje. Quando entrávamos em alguma estrada vicinal, de terra, a brincadeira era dizer que “pegamos a BR” de tão mal conservadas estavam as estradas federais.
Prepare-se para viver algo semelhante nos próximos anos, depois das sensíveis melhorias que experimentamos em um década.
Juliana Elias, do UOL, publica hoje um conjunto de dados que reflete os investimentos em infraestrutura no país nos últimos dez anos e o resultado, claro, é como uma “lombada” de estrada… Subiu e desceu vertiginosamente, como mostra o gráfico.
Os números não se referem, claro, apenas a reparos, duplicações e abertura de rodovias. Incluem saneamento, energia e ferrovias, essencialmente. E apontam que, em 2016, ficaram em lastimáveis R$ 99 bilhões.
“É também pouco mais da metade da receita alcançada em 2012, quando os gastos com infraestrutura atingiram seu pico. Em 2012, as obras de infraestrutura realizadas no país, segundo a Paic, somaram R$ 180,5 bilhões. Desde então, este valor veio caindo ano a ano até chegar à mínima de 2016, número mais recente do IBGE”, narra Juliana.
Não foi só a recessão econômica: atingidas pela Lava jato, empreiteiras paralisaram obras e o resultado foi um aumento de 17% no desemprego da construção civil. Quem manteve o posto de trabalho perdeu 5% dos salários já modestos.
Não imagine que 2017 seja diferente disso, porque não houve dinheiro, senão para o setor elétrico. Os desembolsos do BNDES para as áreas de saneamento, logística e mobilidade urbana caíram 23% e as contratações de crédito, que representam obras em futuro próximo, despencaram 44%.
Pior ainda porque, para aliviar os problemas de caixa da União, o BNDES devolveu os recursos que tinha disponíveis para emprestar. Não ache que o fato de boa parte da malha rodoviária ter sido privatizada vá ser a saída: obra pesada, mesmo nelas, só com financiamento público, embora a conservação possa ser feita com os pedágios escorchantes que cobram.

No próximo buraco em que cair numa rodovia federal, lembre-se de Henrique Meirelles, do teto de gastos e do discurso neoliberal.
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