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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Ninguém levantará por nós um só tijolo.Por Adhemar Bahadian

Tornou-se tão raro ler, em meio ao sabujismo de uns e ao desânimo de outros, textos de alguém que consegue pensar fora da fatalidade de que somos e seremos um país chinfrim, condenado a praticar uma “eficiência” selvagem, onde os negócios vão bem e as pessoas vão mal,  que perceba, como tantos de nós e das gerações passadas percebemos, que somos uma Nação das que mais podem aspirar, por tudo o que temos, ter um destino próprio, que tenho a obrigação de reproduzir. O texto do embaixador aposentado Adhemar Bahadian, publicado originalmente no Jornal do Brasil é destes que nos conforta a alma e revigora as forças para lutar.

O leite e as pedras

Adhemar Bahadian, no Jornal do Brasil
Às vezes, me pergunto se ouvi bem certas frases de altas autoridades brasileiras . Venho lutando contra uma surdez incipiente, derivada da idade e da genética. Mas a surdez será um bálsamo diante da pirotecnia de ditos e malditos que andam por aí. Outro dia, chegou a meus cansados ouvidos a frase “ por mim eu privatizaria tudo, mas o exército é contra a privatização da Petrobras.” Tive vontade de gritar de volta “ também sou contra”. Quase no mesmo instante, ecoou outra frase do mesmo locutor “ as estatais são como filhos que se drogaram “. Esta, convenhamos, é de extremo mau gosto. Atinge famílias às voltas com um dos mais dolorosos problemas da modernidade e ,de quebra, insulta a capacidade gerencial de honrados funcionários públicos.
Cheguei a pensar que se deveria instituir um imposto de consumo por frases estúpidas. Creio que as contas públicas melhorariam muito. Não demorou dois dias, sempre o mesmo locutor enunciou sua terceira pérola: “Pinochet transformou o Chile numa Suiça”. E agora, que se pode argumentar?
Enquanto a sociedade brasileira pranteava os mortos de Brumadinho, outra autoridade de alto coturno meteu as esporas no cavalo moribundo.” Precisamos reprivatizar a Vale” dando a entender que as boas privatizações são as que ficam nas mãos de brancos de olhos azuis.
Ainda no domingo passado, neste mesmo espaço, recordei que o Ministro alemão da Economia havia dado a conhecer a estratégia industrial de seu país para o período 2019-2030 ,onde ressaltava a importância de o Estado alemão impedir a venda de empresas privadas para gigantes indústrias da China e dos Estados Unidos. Ora, o ministro alemão deixa claro que o capitalismo mundial está passando por uma tectônica arrumação de camadas onde se decide o poder deste século 21. Nesta reorganização hostil , a Alemanha denuncia o pret-à-porter de uma geopolítica onde China e Estados Unidos serão os dois polos a imantar a nova configuração mundial. Em outras palavras, a Alemanha pretende salvaguardar suas empresas e sua cultura da pasteurização galopante em diversas áreas do planeta, em sangrenta turbulência.
Mais importante, a Alemanha está a dizer em alto e bom som exatamente o oposto que nossos ilustres dirigentes governamentais propõem como rota para o Brasil.
Aqui, ao contrário de lá, se tem uma visão derrotista do futuro. Nosso caminho será certamente o de aprofundar a subserviência aos poderosos e nos contentarmos, como historicamente nos contentamos, com um papel subordinado no rearranjo que se quer impor pela força de uma ideologia mambembe. Agora, vejam bem o disparate desta opção . O Brasil talvez seja um dos poucos países que podem, sem ufanismos, pleitear uma posição de destaque na geopolítica deste século. Temos território, população e riquezas naturais para sê-lo .
Pode-se argumentar que temos um território ainda a conquistar, uma população a instruir, e riquezas que se podem desperdiçar . Mas, é exatamente aí que entra o elemento que nos falta dramaticamente neste momento. A determinação .
Que sentido queremos dar a nosso país, que destino queremos para nossos filhos e netos já que o nosso se aproxima inexoravelmente do fim?
Pelo que dizem alguns dos nossos sábios economistas e astutos políticos, devemos nos “integrar” no mercado financeiramente globalizado, que dança diante de nós sua concupiscência argentária. Certo, poucos enriquecerão mais ainda. Seremos o país da desigualdade eterna, em que ricos e pobres se esquartejarão, como nas arenas romanas do Coliseu. É uma opção . Outra, seria assumir o desenvolvimento econômico e social ao alcance de uma sociedade determinada a vencer as disparidades sociais, através do estimulo ao desenvolvimento do mercado interno, atraente para gregos e troianos.
Em suma, carecemos de um programa de governo inteligente e sagaz a equilibrar nossas potencialidades e o investimento produtivo. Já o tentamos com algum êxito no passado. Lembremo-nos dos 50 anos em 5 do JK. Nações se constroem pela força de suas sociedades. Ninguém levantará por nós um só tijolo. Temos apenas nossas mulheres. E nossos “cojones”.

Tornou-se tão raro ler, em meio ao sabujismo de uns e ao desânimo de outros, textos de alguém que consegue pensar fora da fatalidade de que somos e seremos um país chinfrim, condenado a praticar uma “eficiência” selvagem, onde os negócios vão bem e as pessoas vão mal,  que perceba, como tantos de nós e das gerações passadas percebemos, que somos uma Nação das que mais podem aspirar, por tudo o que temos, ter um destino próprio, que tenho a obrigação de reproduzir. O texto do embaixador aposentado Adhemar Bahadian, publicado originalmente no Jornal do Brasil é destes que nos conforta a alma e revigora as forças para lutar.

O leite e as pedras

Adhemar Bahadian, no Jornal do Brasil
Às vezes, me pergunto se ouvi bem certas frases de altas autoridades brasileiras . Venho lutando contra uma surdez incipiente, derivada da idade e da genética. Mas a surdez será um bálsamo diante da pirotecnia de ditos e malditos que andam por aí. Outro dia, chegou a meus cansados ouvidos a frase “ por mim eu privatizaria tudo, mas o exército é contra a privatização da Petrobras.” Tive vontade de gritar de volta “ também sou contra”. Quase no mesmo instante, ecoou outra frase do mesmo locutor “ as estatais são como filhos que se drogaram “. Esta, convenhamos, é de extremo mau gosto. Atinge famílias às voltas com um dos mais dolorosos problemas da modernidade e ,de quebra, insulta a capacidade gerencial de honrados funcionários públicos.
Cheguei a pensar que se deveria instituir um imposto de consumo por frases estúpidas. Creio que as contas públicas melhorariam muito. Não demorou dois dias, sempre o mesmo locutor enunciou sua terceira pérola: “Pinochet transformou o Chile numa Suiça”. E agora, que se pode argumentar?
Enquanto a sociedade brasileira pranteava os mortos de Brumadinho, outra autoridade de alto coturno meteu as esporas no cavalo moribundo.” Precisamos reprivatizar a Vale” dando a entender que as boas privatizações são as que ficam nas mãos de brancos de olhos azuis.
Ainda no domingo passado, neste mesmo espaço, recordei que o Ministro alemão da Economia havia dado a conhecer a estratégia industrial de seu país para o período 2019-2030 ,onde ressaltava a importância de o Estado alemão impedir a venda de empresas privadas para gigantes indústrias da China e dos Estados Unidos. Ora, o ministro alemão deixa claro que o capitalismo mundial está passando por uma tectônica arrumação de camadas onde se decide o poder deste século 21. Nesta reorganização hostil , a Alemanha denuncia o pret-à-porter de uma geopolítica onde China e Estados Unidos serão os dois polos a imantar a nova configuração mundial. Em outras palavras, a Alemanha pretende salvaguardar suas empresas e sua cultura da pasteurização galopante em diversas áreas do planeta, em sangrenta turbulência.
Mais importante, a Alemanha está a dizer em alto e bom som exatamente o oposto que nossos ilustres dirigentes governamentais propõem como rota para o Brasil.
Aqui, ao contrário de lá, se tem uma visão derrotista do futuro. Nosso caminho será certamente o de aprofundar a subserviência aos poderosos e nos contentarmos, como historicamente nos contentamos, com um papel subordinado no rearranjo que se quer impor pela força de uma ideologia mambembe. Agora, vejam bem o disparate desta opção . O Brasil talvez seja um dos poucos países que podem, sem ufanismos, pleitear uma posição de destaque na geopolítica deste século. Temos território, população e riquezas naturais para sê-lo .
Pode-se argumentar que temos um território ainda a conquistar, uma população a instruir, e riquezas que se podem desperdiçar . Mas, é exatamente aí que entra o elemento que nos falta dramaticamente neste momento. A determinação .
Que sentido queremos dar a nosso país, que destino queremos para nossos filhos e netos já que o nosso se aproxima inexoravelmente do fim?
Pelo que dizem alguns dos nossos sábios economistas e astutos políticos, devemos nos “integrar” no mercado financeiramente globalizado, que dança diante de nós sua concupiscência argentária. Certo, poucos enriquecerão mais ainda. Seremos o país da desigualdade eterna, em que ricos e pobres se esquartejarão, como nas arenas romanas do Coliseu. É uma opção . Outra, seria assumir o desenvolvimento econômico e social ao alcance de uma sociedade determinada a vencer as disparidades sociais, através do estimulo ao desenvolvimento do mercado interno, atraente para gregos e troianos.
Em suma, carecemos de um programa de governo inteligente e sagaz a equilibrar nossas potencialidades e o investimento produtivo. Já o tentamos com algum êxito no passado. Lembremo-nos dos 50 anos em 5 do JK. Nações se constroem pela força de suas sociedades. Ninguém levantará por nós um só tijolo. Temos apenas nossas mulheres. E nossos “cojones”.
(Do Tijolaço)
Postado por Madalena França

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