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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Linda homenagem do Jornalista Magno Martins a Genival Lacerda que foi morar no céu: o batizou do cantor da alegria...

 


Deus fez o bicho homem artista de forma múltipla. Uns, para poetizar a vida e torná-la mais doce e romântica, como o maior deles, o poetinha Vinicius de Moraes. Outros, para cantar. Amália Rodrigues, a deusa do fado, murmurou em prantos cantando que foi Deus que deu a ela a voz linda, deu luz aos seus olhos, um rosário de penas que foi desfiando e que a fez chorar cantando.

Cartola cantou as rosas. Declamou que as rosas não falam, simplesmente exalam o perfume que roubam de ti. Luiz Gonzaga, o rei do baião, cantou o Sertão. "Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o Sertão, que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor", profetizou Gonzagão, como se tivesse pedindo para colocar essa frase na lápide do seu túmulo.

Almir Sater canta o Pantanal, os encantos da sua fauna e flora. "Enquanto este velho trem atravessa o pantanal/Só meu coração está batendo desigual/Ele agora sabe que o medo viaja também/Sobre todos os trilhos da terra". Zezé Di Camargo e Luciano cantam o amor, "que mexe com minha cabeça e me deixa assim". Roberto Carlos canta o romantismo. "Você tem que ter um homem como eu, romântico, ardente no amor, que adoça a sua vida, que te acorda com beijos e abraços".

O genial Genival Lacerda, que Deus levou hoje aos 89 anos, cantou a alegria, fez das suas músicas de duplo sentido o painel do riso e da descontração. Com ele no palco, lá embaixo, no meio da multidão, a gente dançava e ria ao mesmo tempo. Quem era capaz de segurar um riso diante da engraçada expressão artística de Genival segurando sua barriga enquanto cantava Severina Xique Xique, Mata o Veio, De quem é esse jegue e Radinho de Pilha?

Genival saiu de Campina Grande para ganhar o mundo construindo um estilo próprio, engraçado e despojado. Marcou uma geração, se fez grande na versatilidade, inimitável. Se Roberto Carlos é o rei do romantismo, Genival pode ser traduzido e eternizado como o rei da alegria brasileira. Sua face era pura alegria. Sua alma foi feita com arranjos de sorrisos.

Quando Deus criou Genival, ordenou: vai alegrar o povo. O povo precisa sorrir. A música de Genival era pura alegria", disse, chorando, Daniela Mercury. O forró de Genival vai ser perpetuado como o ritmo da alegria e da irreverência. Seu duplo sentido nos remetia à alegria, nunca à maldade. Com ele, morre um estilo, fica o legado. João Lacerda, seu herdeiro da musicalidade, vai continuar cantando os sucessos do pai e nos deixando mais saudosos ainda.

Genival era paixão ardente pelo Recife, cidade pela qual foi adotado por iniciativa da vereadora Aline Mariano. Sua morte calou Recife e o Brasil nesta quinta-feira, 7 de janeiro de 21. Para nós, seus fãs, fica o consolo de que a morte não é a maior perda da vida. A maior perda é o que morre dentro de nós enquanto vivemos. E não vamos permitir que Severina Xique Xique morra nunca.

A cada chamado da vida, o coração deve estar pronto para a despedida.

Só os anjos terão, hoje, o prazer e a alegria de ouvir Genival cantar fazendo o remelexo com a barriga da alegria.

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