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sábado, 25 de julho de 2015

Histórias de repórter (69)

Deputado federal mais votado nas eleições de 1986, quando Arraes volta a governar Pernambuco sete anos depois da sua volta do exílio, Joaquim Francisco (PFL) foi eleito prefeito do Recife em 1988, iniciando o processo de retomada do poder da direita que veio a ser perdido primeiro com a vitória de Jarbas no Recife em 85 e em seguida Arraes governador, em 86.
Joaquim bateu nas urnas o então líder do Governo Arraes na Assembleia Legislativa, Marcus Cunha. Havia uma lenda de que o nome de Cunha fora imposto por Jarbas, mas na verdade o seu candidato preferido era o seu vice José Carlos Melo, engenheiro, vetado por Arraes, que já estava com um pé atrás com Jarbas pelo fato dele ter dado o voto de minerva para Marcos Freire disputar o Governo do Estado, em 82.
Com Cunha na disputa, que fez uma campanha tumultuada e cheia de conflitos, chegando a abandonar um debate numa televisão, o que só confirmou a fama de pavio curto, Joaquim teve 248.78 votos contra 143.305 de Cunha. Foi o começo da derrocada da onda favorável às forças populares, que começou a perder o fôlego das primeiras disputas eleitorais.
Pernambuco viveu por muito tempo a bipolarização das disputas entre PMDB e PFL, sendo a tônica dos primeiros embates eleitorais dos anos 80. A rivalidade entre as siglas vinha do período da ditadura militar. Grande parte das lideranças que ajudaram Joaquim a derrotar as esquerdas deram apoio ao regime e estavam no PFL.
Quem conhece a política pernambucana nos seus bastidores sabe que Arraes não fez um mínimo de esforço para eleger Marcus Cunha e até gostou da chegada de Joaquim ao poder, primeiro porque dizia que a derrota não era dele, mas de Jarbas, que queria fazer o sucessor, e em segundo lugar porque não teria dificuldades de se relacionar com o novo prefeito do Recife pela velha amizade com o pai de Joaquim.
O “velho Zé Francisco”, como se referia Joaquim ao seu pai, era contemporâneo de Arraes e como deputado estadual construiu pontes com a esquerda lá atrás que ajudaram o então prefeito eleito do Recife a buscar o apoio de Arraes governador para projetos de interesses da capital. Joaquim conta que viu Eduardo Campos discursando a primeira vez num ato em que seu pai estava ao lado de Arraes.
“Ele discursava sobre caixotes de cerveja. Naquela ocasião, eu disse: ‘Esse caboclo é bom”, relembra Joaquim. A posse de Joaquim na Prefeitura foi uma grande festa política, porque representava a reconquista do poder pelo PFL e o projeto de retomar o Governo do Estado, dois anos depois, em 1990, quando o mesmo Joaquim, vitalizado pela excelente gestão na capital, derrotou Jarbas.

Nos primeiros meses à frente da Prefeitura, Joaquim encontrou muitas dificuldades para governar sem o apoio do Estado, devido a um conjunto de ações que exigiam o braço das políticas estaduais. Foi quando resolveu quebrar o tabu das idiossincrasias partidárias, marcadas pelo bipartidarismo e o velho discurso de esquerda x direita, com a iniciativa de procurar Arraes.
A audiência formal foi solicitada e o então governador Miguel Arraes, de camisa social e bem à vontade, recebeu Joaquim no tradicional gabinete de despachos localizado no segundo andar do Palácio das Princesas. Para quebrar o gelo, Joaquim abriu a conversa falando do seu pai, o que fez Arraes contar histórias do arco da velha da relação que tinha com ele na política.
Arraes desejava, na verdade, um encontro rápido e por isso mesmo, propositalmente, mandou desligar o ar-condicionado do gabinete. Joaquim, de paletó e gravata, começou a suar como tampa de chaleira e quanto mais transpirava mais Arraes jogava fumaça de cachimbo na sua cara.
Já passando mal, Joaquim disse: “Dr. Arraes, como é que o senhor consegue trabalhar numa sauna? Por favor, ligue o ar-condicionado, porque estou suando aqui mais do que cueca de carteiro”. Arraes deu uma gargalhada e como queria que a conversa fosse breve alegou que o Estado estava em racionamento de energia, brincando em seguida:
“Você é luxuoso, diferente do velho Zé Francisco, que andava comigo nas ruas de paletó e gravata”. Arraes, percebendo o incômodo de Joaquim, acrescentou: “Fique à vontade, tire o paletó que vou mandar abrir as janelas”.
E não ligou o ar-condicionado. Joaquim, desconfiado que Arraes queria encurtar o encontro pelo desconfortável calorzão, deixou sobre à sua mesa um calhamaço de pleitos que pouco ou quase nada chegou a ser atendido nos dois anos em que ficou na Prefeitura, para em 90 renunciar e disputar o Governo do Estado, passando o seu comando ao vice Gilberto Marques Paulo.
Por Magno Martins

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