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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

De volta ao be-a-bá…


Olavo de Carvalho levou mais uma.
Ele será, nos próximos quatro anos, o inspirador da alfabetização das crianças brasileiras.
O ministro, seu indicado,  da “Educação” – as aspas não são casuais – anunciou, diz a Folha, que a “Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão” do MEC será desmontada e em seu lugar surgirá a subpasta Modalidades Especializadas”
Afirma o jornal que a área de alfabetização será entregue a Carlos Nadalim, coordenador da escola “Mundo do Balão Mágico”, de Londrina, Paraná, pertencente a sua família.
E como fez o senhor Nadalim para voar a estas alturas?
Tornou-se discípulo de Olavo de Carvalho na área de educação, ode o astrólogo-pedagogo decretou que ““tem que voltar ao velho método fônico, beabá, como era nos anos 60, 70”.
Ou seja, 50 anos de aprendizado da pedagogia devem ser jogados fora e regressaremos ao “Ivo vou a uva” e “Eva viu o ovo”, enquanto os meninos assistem ao Youtube e  jogam no celular.
Ainda bem que minha mãe, alfabetizadora durante mais de 20 anos e depois orientadora de educação, já se foi, para não ir chorar junto do livros de Jean Piaget que tanto amava, para ver de volta a exclusividade da silabação que é inevitável, mas não é suficiente.
Ah, sim, mas isto é nas escolas privadas, onde a turma vai aprender sem “intervenções federais”.
Não precisam compreender a leitura como ela é, de fato, uma forma de comunicação e, portanto, de uma atividade social, que envolve muitos ou todos.
Para os pobres, que não conhecem nenhum Ivo, nenhuma Eva, nunca viram uva e para os quais ovo é uma coisa cozida, frita ou mexida, vai de “vovô viu a Eva”.
Assisti ao vídeo de autoapresentação de Nadalim no Youtube- e de louvação a Olavo –  e a coisa é de um primarismo de doer.
Pularei partes em que ele fala que é enorme a preocupação de homens solteiros, sem filhos, com a educação de seus futuros filhos, pelo completo descasamento disso com a realidade.
Mas chamo atenção à parte em que ele se dispõe a “ajudar”, com seus métodos, os pais que não querem que seus filhos vão à escola, preferindo optar por educá-los na “jaulinha doméstica”.
Falta pouco para ressuscitarem a figura do preceptor.
Então, como do be-a-bá só me ficou na memória o “reclame” do Biotônico Fontoura, minha solidariedade às crianças e aos professores.
Todos repetirão incansavelmente o ba-be-bi-bo-bu, como estreia para uma educação que só fará reproduzir, de forma estática, nas silabas, palavras e ideias.
Bem, parece mesmo que aprender a pensar virou “marxismo cultural”.
Madalena França Via Tijolaço

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