É preciso certa condescendência com Jair Bolsonaro, embora não a suficiente para absolvê-lo do fato de ser o executor de uma política de destruição do país, da mesma forma que não se pode achar que o pistoleiro é o grande culpado pela morte encomendada.
Bolsonaro, a rigor, foi o produto possível de um processo de destruição política do Brasil que pouco tem a ver com ele próprio.
Não passaria, em outras circunstâncias, de um apresentador de tevê ou rádio vespertino, destes de programas onde se derramam hemorragias do “mundo cão”, ou de um policial-parlamentar de baixa extração, como tivemos aqui no Rio o “Sivuca”, o delegado que veio da turma dos formadores do Esquadrão da Morte e criador, em 1986, do slogan “bandido bom é bandido morto”.
Seria impensável, nos 40 anos que nos separam de indicação do General João Figueiredo para a Presidência imaginarmos uma figura tão tosca à frente da Nação. E diga-se, sobre Figueiredo, que era grotesco e canhestro, mas não um imbecil.
Bolsonaro não chegou à presidência, portanto, por méritos políticos próprios e nem mesmo por uma conspiração militar. Os militares, à certa altura, apens embarcaram na candidatura de um sujeito que, para eles, era um rastaquera, embora rastaquera seja também quem de rastaqueras se servem.
Bolsonaro é fruto de outra gestação, a da violação da democracia política pelas elites político-judicial-midiatica deste país. De sua adesão à mixórdia do baixo-clero político que se sucedeu às duas derrotas eleitorais de 2006 e 2010 e ao fracasso de sua última tentativa, já usando um escroque como Aécio Neves, de alcançar o poder pela via eleitoral.
Compôs-se com um golpe de estado que não poderia alcançar sua consumação senão pelo aparelhamento completo da Justiça e da mídia.
De tal forma, porém, exagerou na dose que despertou um primitivismo que, agora, empalmou o poder e, pior, tomou conta de parte expressiva da sociedade.
Não é que hoje a conservadorismo seja maior. Ele anda como sempre foi, ao longo da história , em torno de um terço dos brasileiros.
A diferença é que se tornou selvagem, agressivo, selvagem.
A direita civilizada, parte legítima e natural do jogo político, tanto quanto a esquerda, está sem representação. Elevar Rodrigo Maia à condição de seu líder e porta-voz, dada a sua inexpressão, é a prova do seu aniquilamento.
Perdemos a estima mútua e a autoestima. O discurso dominante é o de aceitarmos nossa mediocridade, o de ajeitarmo-nos na probreza e na exclusão, o de nos desfazermos de tudo o que temos e o de entregar o país ao “mercado” e aos investidores que vão nos remir, sabe deus quando, da miséria, embora jamais da pobreza.
Abdicamos de um projeto de Nação, trocamo-o por um desejo colonial.
Jair Bolsonaro é só o resultado do que a gente “de bem” deste país escolheu fazer dele para que continuasse a ser assim.
É o enterro de qualquer projeto de convivência harmônica no Brasil, já tão difícil dado o nosso nível de desigualdade.
A elite brasileira escolheu ter a cara de um monstro, e só esta.
Terá dificuldades de ser vista com outra aparência.
(Tijlaço)
Postado por Madalena França
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