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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Lula: “a harmonia vai voltar ao Brasil”


entrevlula
Ainda que com um pouco de atraso, não dá para deixar de refletir sobre a ótima e mal-aproveitada entrevista (exceção feita a Monica Bergamo, que a resumiu na Folha, que reproduzo ao final) de Lula à grande imprensa, ontem.
A calma de Lula não apenas impressiona como é, creiam, a tradução de parte do que ele falou e a estratégia com que pretende enfrentar a campanha.
É a sua plataforma, no essencial: devolver ao Brasil um clima de normalidade e crescimento econômico, porque foi a anormalidade em que mergulhamos que nos levou, em grande parte, ao processo de crise, recessão e empobrecimento.
Foi da Justiça de exceção de Sérgio Moro que partiu, usando a mídia como vetor, a vida de exceção em que o Brasil afundou.
Lula percebe o desejo silencioso da maioria da população – que não está berrando no facebook ou nos programas da Globo – que eu chamei aqui, uma vez, de “banzo da normalidade“.
O Brasil que saiu do experimento facistóide da aliança Justiça- Mídia – PSDB só levou à crise, carências e atraso. Isso é algo que não há discurso “antiLula” que possa esconder.
Por isso, curiosamente, uma candidatura de esquerda vai ter o nada desprezível argumento eleitoral de que é ela que pode assegurar que “a vida volte ao normal”, razão que, em geral, é invocada pela direita para obter apoio nas eleições.
Lula, se o deixarem concorrer, será eleito não só pelo povo, mas pela memória do povo, algo que seus adversários não têm.

 “O bom senso vai prevalecer neste país”

A entrevista de Lula, por Monica Bergamo
“Faz muito tempo que a gente não conversa. Eu então tomei a decisão de, neste final de ano, tomar um café com vocês e tentar matar a saudade. E ver o que vocês tanto querem perguntar e se eu vou saber responder”, disse Lula.
“Vou tentar ter o melhor humor possível. De vez em quando eu vejo alguém dizer que estou mal humorado. Eu não poderia estar mal humorado porque sou corintiano. E estou em primeiro lugar nas pesquisas [eleitorais]. Se tem alguém que está mal humorado neste país não sou eu.”
O ex-presidente afirmou que “a gente continua vivendo no Brasil um momento atípico na política” que só será normalizado quando “o povo eleger diretamente um presidente ou uma presidenta da República”.
Lula, que será julgado no dia 24 de janeiro pelo caso do tríplex, disse que não teme ser condenado nem preso e que será candidato “enquanto o PT quiser” e ele puder recorrer à Justiça para se manter na campanha.
Leia abaixo trechos da conversa:
JULGAMENTO
A minha condenação será a negação da Justiça. Porque a Justiça vai ter que fazer um esforço monumental para transformar uma mentira em verdade e julgar uma pessoa que não cometeu crime.
A sentença do juiz [Sergio] Moro me condenando, aos olhos de centenas de juristas, até de fora do Brasil, é quase que uma piada.
Eu tenho a tranquilidade de que vou ser absolvido porque para um cidadão ser condenado ele tem que ter cometido um crime. E não tem [crime]. É por isso que eu tenho desafiado a Polícia Federal, o Ministério Público da Lava Jato, a mostrarem uma única prova. Eu não peço duas. Eu peço uma.
Na verdade estamos vivendo uma anomalia jurídica e política. Esse processo começou com uma mentira de um jornal, de uma revista, que foi transformada num inquérito pela Polícia Federal. O resultado do inquérito é mentiroso. Foi enviado ao Ministério Público, que mentiu e fez uma acusação. E o Moro aceitou a mentira.
Tudo isso poderia ter terminado se a Polícia Federal tivesse sido sincera e se o Moro tivesse feito papel de juiz.
Acontece que estamos vivendo um momento muito delicado. Você subordinou o processo ao que a imprensa fala dele. Numa linguagem popular, eles estão sem rota de fuga. Ou seja, mentiram e não têm como sair.
Qual é a única chance que eu tenho? É pedir provas. Tem que ter algum documento, algum contrato, aluguel, pagamento [do tríplex], algum ato de ofício, alguma coisa.
Eu tenho até o dia 24 para esperar que alguém diga qual foi o crime que eu cometi. E dizer que o apartamento [tríplex] é meu. Me entrega a chave. Quem sabe a nossa próxima conversa será na sacada do apartamento, tomando sol. Enquanto não for, por favor, parem de mentir a meu respeito.
Eles [desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que vão julgá-lo] têm mais obrigação diante da sociedade no dia 24 do que eu. A minha inocência eu já provei. Quero que agora eles provem a minha culpa.
Eu às vezes tento encontrar um roteiro para comparar com o meu. O mais próximo que eu encontro é o da invasão do Iraque [em 2002].
O [então presidente norte-americano George] Bush sabia que o Iraque não tinha armas químicas. O [então primeiro-ministro inglês] Tony Blair sabia. Inventaram uma mentira, sustentaram a mentira e conseguiram fazer a invasão por conta de uma mentira. Já faz 15 anos. Cadê a arma química?
Eu tenho 72 anos de idade e acredito na Justiça e na democracia. Senão eu vou fazer o quê? Propor a luta armada? Com a minha idade? Prefiro continuar acreditando.
Eu penso que meus acusadores vão ficar ridicularizados. Ridicularizados.
REINALDO AZEVEDO
Eu aconselho vocês a lerem as peças [do processo] para me defenderem, como o [jornalista e colunista da Folha] Reinaldo Azevedo está fazendo [risos]. Ele todo dia fala “Eu li. Eu li o processo”. Eu não peço para dizerem que eu sou inocente, não. Peço que vocês leiam. E se acharem uma vírgula de culpa, por favor, me telefonem. É só isso.
TESÃO
Como eu acho que eu vou ser cada vez mais inocentado, eu acho que no final vai prevalecer o bom senso nesse país. Como eles podem tentar evitar que um velhinho [como eu] de 72 anos de vida, energia de 30 anos e tesão de 20 seja candidato? Não é possível. É tanta coisa boa junta que eles têm que deixar, porra. Ainda mais um cara que tem um otimismo, sozinho, que todos não têm juntos.
PIROTECNIA
Eu fico feliz que o Brasil seja um país dotado de mecanismos para combater a corrupção. Agora, o que incomoda é quando você tem as instituições que têm que apurar se transformando em partido político. E criando factóide, trabalhando com show de pirotecnia.
Não vou esquecer nunca o show que a PF deu quando veio aqui no Instituto. O espetáculo. Parecia que estava invadindo uma casa que tinha bombas, arma química do Iraque aqui dentro.
Quando vão na casa do Sergio Cabral, na casa do Geddel [Vieira Lima]encontram dólar, dinheiro, fazem um carnaval com aquilo.
Agora, quando vão na minha casa e não encontram porra nenhuma, eles deveriam pelo menos dizer “desculpa, Lulinha”. Não fizeram.
Eu não vou morrer enquanto não me pedirem desculpas. Eu quero ouvir o William Bonner pedindo desculpas na Globo. [Imita o apresentador do Jornal Nacional]: “Boa noite. Queríamos pedir desculpas para o Luiz Inácio Lula da Silva porque tudo o que se falou dele foi mentira”.
CARÁTER
Se tem uma coisa que eu tenho de sobra é caráter. E não vou permitir que um juiz me chame de ladrão, ou um promotor. Eles têm que ter uma prova. Se não tiver, se pegarem essa gente toda e fundir numa prensa, não dá um cara mais honesto que eu.
Eles mexeram com um homem honesto. E é isso o que vai me fazer brigar com eles até o último dia da minha vida. Vamos ver quem vai vencer essa história.
DELAÇÕES
Já são milhares de empresários presos, centenas de delações. E até agora não existe uma única prova [contra mim].
Eu fico até com pena. Conheço casos e casos, contados por advogados, de pessoas que eram perguntadas [pelos investigadores]: “E o Lula? Ele sabia?”. Então tinha uma senha.
Eu duvido que tenha na história do Brasil um presidente ou um partido que tenha tomado as providências que nós tomamos para combater a corrupção. Eu espero que a história um dia faça justiça ao PT. Desde a proclamação da República não fizeram o que fizemos em apenas 12 anos.
Mas o combate à corrupção exige seriedade. As pessoas que investigam e julgam têm que ter muita responsabilidade. Por isso são concursadas, têm estabilidade, ficam eternamente no cargo. É uma coisa importante e nobre. Tem que ter QI acima da média. Mas tem que ter caráter também.
A delação, que nós [governos do PT] fizemos, está sendo utilizada para fins políticos.
E vocês diziam: “Quando prenderem o [pecuarista José Carlos] Bumlai, o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Marcelo [Odebrecht], o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Emílio [Odebrecht], o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Aécio [Neves], o Lula tá ferrado. Quando prenderem o [Antonio] Palocci, o Lula tá ferrado”.
Pode prender o papa Francisco! Eu duvido que nesse país tenha alguém com a consciência mais tranquila do que a minha. Mesmo os que escrevem contra mim.
Se as pessoas estão acostumadas a lidar com quem não tem caráter e honra, eu tenho. Porque caráter não está à venda. Não adianta ir para Miami que não encontra. A gente tem de berço. E eu tenho de sobra.
CANDIDATO CONDENADO
Eu estarei candidato se o partido quiser porque no fundo o PT que vai decidir até o dia em que uma instância [da Justiça] diga que eu não posso ser candidato.
A minha vontade é sair com o meu atestado de inocência no dia 24. Se não for nesse dia, recorrer. Porque eu não vou passar para a história como um inocente condenado. Eu prefiro moralmente condenar quem me julgou, condenar parte da imprensa que mentiu três anos seguidos contra mim.
Essa semana houve o depoimento de um cidadão chamado [Rodrigo] Tacla Duran [advogado que trabalhou para a Odebrecht e faz acusações à força-tarefa da Lava Jato]. E a grande imprensa não deu nada. Imagine se ele estivesse acusando o PT. Nós teríamos sido capa e contracapa. Há um conluio para fazer com que a mentira vença.
E eu tenho a certeza absoluta que o que vai vencer é a inocência de um ser humano que só tem um problema neste momento: ter mais chance de ser presidente do que os outros.
Então faz chapa única [para concorrer à Presidência], junta todo mundo, não tem debate na televisão.
MEDO DE SER PRESO
Eu não penso, querida. Porque preso só pode ir quem cometeu um crime.
O Ministério Público… Quando eu digo Ministério Público eu quero fazer uma distinção entre a instituição e alguns de seus componentes.
Esse [Deltan] Dallagnol [procurador da Lava Jato] não tem tamanho para fazer o que ele está fazendo.
Aquele Power Point [apresentado à imprensa com acusações contra Lula], ele deveria ser exonerado a bem do serviço público [por ter feito a peça].
O cidadão que fez três anos de concurso, ganha R$ 30 mil [por mês] para falar uma mentira daquela para a sociedade brasileira? Esse cidadão deveria ter sido exonerado. Porque não é possível alguém ganhar tanto do Estado para contar a mentira que ele contou.
Está provado também, depois do papelão do [ex-procurador-geral da República Rodrigo] Janot com o Joesley [Batista, da JBS], está provado o que era aquilo.
Você não pode dar muito destaque a quem não tem biografia. [Ergue a voz] Biografia é uma coisa que exige respeito. E você conquista biografia com trabalho e não com mentira.
É por isso que eu não vou ser preso. Porque para eu ser preso tem que provar alguma coisa. É mais fácil eu provar que eles mentiram do que eles provarem que eu cometi um crime.
Então esse é o jogo que está jogado, querida. É esse o jogo que está jogado.
Se alguém está fazendo isso comigo para que eu não seja presidente, que dispute uma eleição. Me derrotaram em 1989, eu fiquei quieto. Me derrotaram em 1994, eu fiquei quieto. Me derrotaram em 1998, eu fiquei quieto. Você me viu fazendo passeata de protesto? Não.
Então o que eu não aceito é a construção de uma mentira. Não dá. Não dá.
ÓDIO
Você viu como a Gleisi [Hoffmann, presidente do PT] foi agredida ontem no avião. Isso é parte do ódio que foi disseminado neste país.
Daqui a pouco passam a divulgar a casa onde eles moram, a escola onde estudam os filhos deles. Para eles saberem o que passam as pessoas que eles acusam inocentemente.
O ódio que foi disseminado nesse país… Eu vou pacificar esse país. Pode estar certa de que eu vou pacificar. As pessoas vão voltar a viver em harmonia. Da mesma forma que um corintiano e um palmeirense podem subir no mesmo elevador, um petista e um tucano podem subir, sem um morder o outro.
Essa sociedade tem que voltar a ser alegre.
Essas pessoas que têm ódio porque as pessoas ascenderam socialmente precisam ser preparadas psicologicamente para aceitar repartir 8,5 milhões de km², que é o tamanho desse país.
Todo mundo aqui tem o direito de ter as coisas.
Então é isso que está em jogo e eu vou me dedicar de corpo e alma.
Eu sei que tem gente que quer que eu seja preso. Tem gente que quer que eu morra antes de ser preso. É um alívio, até para quem vai me julgar. 
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