Jair Bolsonaro passou a maior parte da campanha eleitoral restrito ao seu “nicho de mercado”: os 15-20% de uma direita hidrófoba, que começou a desenrustir-se em 2013 e atingiu plena vida própria em 2016, com o golpe do impeachment, movida a antiesquerdismo e ‘moralidade’.
Ao que parece, agora, sugere fazer o movimento de volta das impensáveis nuvens que alcançou nas eleições passadas para acomchegar-se no serpentário insano do qual se tornou rei. E que, lamento informar, levará uma geração ou mais para dissolver-se.
Claro que nem tudo se pode analisar como um movimento racional, estudado, embora seja de duvidar que, antes de postar as barbaridades que publicou, não lhe tenha ocorrido que não fazer ou fazer de forma menos explícita não despertaria tantas reações negativas.
Mas ainda que não planejado é mais um dos muitos deslocamentos e JairBolsonaro no sentido de reforçar suas ligações com a pauta de costumes moralista e selvagem, onde situações pontuais – o “quilombola de 15 arrobas”, a “feia não estuprável” e os “gays obscenos” servem de matéria-prima para imaginar uma degradação geral da sociedade e o emular o ódio discriminatório.
Claro, você está desempregado, o salário não chega para o mês, o transporte te castiga, a vida anda sem perspectivas? A culpa é da “ditadura gayzista”, ou “comunista”, ou “petista”, ou é culpa do Lula, que não governa o país há mais de oito anos, isso se o culpado não for Nicolás Maduro, da Venezuela.
Os problemas nacionais são os corruptos do dinheiro e os corruptos da moral.
A criação de “inimigos”, que reduz a percepção a níveis de identidade tribal e não de classe não é novidade há milênios .
O enigma ser decifrado é a razão de Jair Bolsonaro estar caminhando nesta direção e não na contrária, dispondo como dispõe agora do cargo e dos mecanismos do poder central.
E a resposta – tanto quanto a reação sexualizada e pornográfica aos xingamentos que lhe fizeram nos blocos – talvez passe pela sensação de fraqueza e ameaça que leva a atitudes agressivas.
Passa-se algo no núcleo político do ex-capitão – o seu, próprio, que não vai quase nada além de seu clã – que não está claro para nós.
Mas que está acontecendo, está.
(Tijolo)
Madalena França
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