A dor da gente não sai no jornal, dizia Chico Buarque numa das músicas de seu Gota D’Água. Quando sai, sai sem destaque, numa notinha.
O Dia registra hoje, com dados pea própria Light, a concessionária de distribuição de luz da cidade do Rio de Janeiro, que “quatro dias após o temporal que caiu no Rio, na noite da última quarta-feira, 2% dos moradores do Rio ainda permanecem sem luz”, a maioria da região da Penha.
Eufemisticamente, o jornal diz que “a concessionária não divulgou quanto representa os 2% dos clientes que ainda estão sem luz”.
O jornal não diz, mas é fácil a conta: como são 6,5 milhões de habitantes e todos são clientes da Light, já que não há outra distribuidora operando no município, 2% são 130 mil pessoas.
Dois Maracanãs lotados.
Gente que não dorme com o calor, com os mosquitos, que viu se estragar o que tinha na geladeira, que passa todo tipo de sufoco numa cidade tropical sem energia elétrica. Será que lá também problemas de segurança e o povo na escuridão?
Se fosse em Ipanema, em Copacabana, Flamengo, estaria sendo tratado como uma catástrofe.
Na Tijuca ou no Méier, um enorme problema.
Na Penha, Oswaldo Cruz, Olaria, é um “probleminha”, que não comove os jornais.
Privatizada, a Light nos nove primeiros meses do ano passado acumulou um lucro de R$ 350,1 milhões.
Não é o suficiente para ter uma estrutura de reparo para temporais – e temporal é o que não falta aqui – que seja capaz de agir com mais presteza?
Ou a qualidade é censitária? Quem duvidar, imagine a Vieira Souto sem luz por quatro dias.
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