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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

O paraíso é o da Tuiuti, o inferno é o da direita


vice
O velho Briza, na sua sabedoria atávica, falava de algo que os bobalhões da teoria não conseguem entender.
O processo social.
Hoje, almoçando tardiamente num “a quilo”- num bairro de classe média reacionária – a tevê transmitia o julgamento dos desfiles de carnaval e dois sujeitos torciam, um pela Beija-Flor  outro pelo Salgueiro e ambos concordavam que a Paraíso do Tuiuti deveria ser a campeã do Carnaval.
Todos eles sabiam que não seria ela a vitoriosa e se surpreenderam de ter perdido por apenas um décimo.
Mesmo torcendo por suas escolas “grandes”, reconheciam que era a escola do “não sou escravo de nenhum senhor” era a vitoriosa real.
Nem falo de “armação”, pois o julgamento de uma escola por “quesitos” é como avaliar a beleza de um corpo esquartejado.
O fato é que o enredo, o samba e o desfile tiveram um sentido atávico também.
Nada do que é dito ali, de forma racional, teria mobilizado multidões.
A arte mexe com isso, com o que está aquém e, sobretudo, além da racionalidade.
Os marqueteiros, que a tudo tratam como “case”, deveriam por tento nisso.
Há uma torrente de insatisfação que não é superficial quanto o que imaginam ser  a força do “novo” encarnado pelas velhas práticas, como este blog mostrou durante o Carnaval.
Vai passar, como dizia o Chico, nessa avenida um samba popular e, como aconteceu agora, cada paralelepípedo dessa cidade vai se arrepiar.
Um sentimento que, talvez, fique como “vice-campeão”. Pode ser. A Beija-Flor mais se adequou aos tempos do “politicamente correto”.
Mas, como reconheceram os dois torcedores do “comedouro”, o sangue fluía era na Tuiti.
Os intelectuais farão pouco disso.
O povo, para eles,  é um alienado, como  alienados eram meus interlocutores casuais, talvez prontos a repetir o discurso de “corrupção” com o o grande mal.
Mas, dentro deles, algo se despertara.
Bem mais fundo, profundo, fecundo.
A história, esta senhora – caprichosa por óbvio – escreveu algo em seu livro aberto. Mas que, como nos versos de John Donne, a entendidos é dado-lê-lo.
Ou “não sou escravo de nenhum senhor” não é o mesmo que traduzia o “não mais será escravo de ninguém”?
Às vezes é preciso ser meio doido para ser lúcido.
O povo não precisa ir a comício para fazer o seu comício.
Amanhã a gente volta á política, onde estamos cheios de velhas novidades…

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