Helena Chagas
A boa notícia, para todo mundo, é que o Congresso está trabalhando. Num período de apenas duas horas na manhã de quarta-feira, por exemplo, o plenário da Câmara votou duas PECs, propostas de emenda constitucional que exigem quorum qualificado e maioria de três quintos dos votos. A má notícia para o Planalto é que o Congresso não está trabalhando para ele, mas sim em cima de interesses próprios, que tendem a enfraquecer o Executivo e fortalecer o Legislativo.
As duas PECs votadas a toque de caixa na Câmara são de alto interesse do Parlamento: 1. Uma torna impositivas, ou seja, de cumprimento obrigatório, as emendas de bancada ao Orçamento da União, o que na prática joga no colo dos políticos o grosso dos gastos em investimentos; 2. A outra regula os prazos para tramitação de medidas provisórias do próprio Congresso, fazendo um meio de campo entre Câmara e Senado, a Casa revisora que está sempre reclamando de receber as MPs com pouco ou nenhum tempo para examiná-las.
O que se vê no panorama político neste momento é um forte movimento de fortalecimento do Legislativo frente ao Executivo, coisa mais ou menos rara no presidencialismo à brasileira, no qual a pauta quase sempre é ditada pelo Planalto. No que vai dar – e até se vai dar – não sabemos, mas a faca e o queijo saíram das mãos do governo.
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