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sexta-feira, 14 de junho de 2019

Moro e o veneno nas taças onde o serviu


O quase-silêncio do The Intercept ao longo dos quatro dias que se segiram à divulgação dos primeiros diálogos ilegais entre Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, chefe e suchefes da Operação Lava Jato, está produzindo um efeito perigoso no ex-juiz de Curitiba: o da autoconfiança de que está blindado pela mídia e nada o atingirá.
Já atingiu, Doutor, e não adianta ficar reclamando dos métodos com que elas vieram à tona, porque são os mesmos que, ao longo de quase cinco anos, a Operação se valeu para moer reputações e dissolver o sistema de freios e contrapesos que mantinha a democracia, com todos os seus vícios, funcionando.
As capas das revistas semanais, o Dr. Moro deve se lembrar, acompanham, com outro personagem, o que fizeram ao longo deste processo.
É perceptível que se quebrou a blindagem que Moro supõe ter e de fato tinha, tanto que mesmo sua ida para o governo Bolsonaro, se fez torcer narizes entre os seus defensores na mídia – e não por razões morais, mas pelo desgaste que, supunham, isso traria – , não lhe valeu uma contestação aberta no campo conservador.
A Veja, onde sempre reinara no altar, verbaliza esta situação:
Prevalecia até agora certa benevolência com determinadas decisões do então juiz, que eram consideradas menores diante de um bem maior: seu empenho no combate à corrupção. O herói parecia inatingível, a ponto de alguns já vislumbrarem até a possibilidade de ele se engajar em projetos pessoais mais ambiciosos, como a própria sucessão de Bolsonaro. Mas essa situação começou a mudar.
Moro não tem uma estratégia de defesa, apenas a alegação de que os diálogos foram obtidos de forma ilegal e a construção precária da mídia de que as invasões foram generalizadas, como se uma quadrilha organizada estivesse atacando dezenas de celulares. Quadrilha, quem sabe, de adolescentes, pois é desconcertante que um hacker diga ao hackeado : “oi, aqui é o hacker!”.
Vai ser atropelado outra vez, provavelmente no final de semana, por outra leva de revelações – mesmo a segunda publicação do Intercept tratou apenas da primeira – e desta vez com todos à espera de que cheguem os pratos principais, com o apetite despertados pelo aperitivo surpreendente.
Moro entende deste timing, como ele próprio expressou ao pergunta se não era “muito tempo sem operação”.
(Tijolaço)
postado por Madalena França

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