O governo começou a respirar por aparelhos na noite de quarta. Assim que o diálogo com o dono da JBS foi divulgado, aliados passaram a discutir procedimentos para desligar as máquinas. As conversas avançaram pela madrugada de Brasília.
Na residência do presidente da Câmara, quatro ministros discutiram as exéquias do chefe. Todos trataram Temer como um cadáver político. Restaram divergências sobre a forma de removê-lo do palácio: renúncia, impeachment ou cassação no TSE.
A situação se agravaria nas horas seguintes. O Supremo autorizou a abertura de inquérito criminal contra o presidente. A OAB falou em fatos "estarrecedores, repugnantes e gravíssimos". A Bolsa despencou, o dólar disparou e o mercado passou a cobrar um desfecho rápido para a crise.
Temer ouviu de vários aliados que chegou ao fim da linha, mas decidiu resistir, mesmo que seja na condição de zumbi. Seguiu o conselho de aliados que dependem do foro privilegiado para não embarcar no próximo voo da Polícia Federal para Curitiba.
Em vez de demonstrar força, o discurso do "fico" forneceu um atestado de fraqueza política. Em tom irritadiço, o presidente esbravejou e elevou a voz, mas não esclareceu nenhuma das suspeitas que o cercam.
Temer apostou tudo na estratégia do terrorismo econômico. Sugeriu que sem ele o Brasil mergulhará no caos e o esforço pela retomada será jogado no "lixo da história". Quando disse que não iria renunciar, ouviu aplausos tímidos e constrangidos.
Ao prolongar a agonia de um governo cambaleante, o presidente mostrou que está menos preocupado com o país do que com o próprio destino. Talvez não tenha entendido que este pode ser o caminho mais curto para a lata de lixo. Por Bernardo Melo Franco