Comidas fora do padrão para comercialização serão processadas, transformadas em ração e entregues a famílias pobres
A Plataforma Sinergia, um think tank de orientação cristã, auxiliou, em 2013, a apresentação do projeto de lei do Deputado Arnaldo Jardim que ”Institui e estabelece diretrizes para a Política Nacional de Erradicação da Fome e de Promoção da Função Social dos Alimentos – PEFSA, fundamentada em uma sociedade fraterna, justa e solidária”.
Segundo ele, “a função social dos alimentos é cumprida quando os processos de produção, beneficiamento, transporte, distribuição, armazenamento, comercialização, exportação, importação ou transformação industrial tenham como resultado o consumo humano de forma justa e solidária”.
Agora, no domingo (8), a Prefeitura de São Paulo anunciou que acaba de conveniar com a Plataforma Sinergia um programa chamado “Alimento para todos”. É uma daquelas tais parcerias com o setor privado que vem diluindo o poder público dia após dia.
Segundo a Prefeitura, a iniciativa “prevê a destinação de todos os tipos de alimentos de boa qualidade e dentro do vencimento para a produção do Allimento, um granulado nutritivo que será entregue às populações que enfrentam carências nutricionais no município”. Já segundo a Sinergia, que tem como executiva Rosana Perrotta, ex-Monsanto e ex-Controller na Mead Johnson Nutrition, o programa visa estabelecer:
• um sistema de beneficiamento de alimentos que não são comercializados pelas indústrias, supermercados e varejo em geral. São alimentos que estão em datas críticas de seu vencimento ou fora do padrão de comercialização, produzindo com eles a FARINATA (rebatizado agora como Allimento).
• FARINATA é 100% doada às populações que enfrentam a fome, aquelas que se enquadram nos diversos graus de insegurança alimentar ou atingidas por catástrofes naturais ou humanitárias.
• “É uma excelente nutrição pronta para o consumo”, totalmente segura e pode ser utilizada em sopas, pães, biscoitos, entre outros.
• Além do mais, é uma solução ambiental para os alimentos no âmbito da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Em síntese: será coletada a sobra de alimentos de vários pontos de distribuição e comercialização, montada uma fábrica para fazer dela uma gororoba granulada para ser distribuída aos pobres. Além disso, o consumo da gororoba chamada Allimento ajuda a solução ambiental no âmbito da Politica Nacional de Resíduos Sólidos – nome pomposo para a disposição final de lixo orgânico.
Esses novos biodigestores – os humanos – poderão ainda fazer pães, bolos, sopas, com a gororoba, antes de dar-lhe nova destinação final…a do cocô.
Uma solução engenhosa, com muita tecnologia diz a Prefeitura, e que conta com o beneplácito cristão como se vê no site do think tank. Uma solução bem ao estilo joão-doria-junior que tratará de pôr goela abaixo daqueles movidos pela fome o que antes era um problema de tratamento de lixo orgânico.
Convenhamos: o dispêndio de dinheiro público num programa mirabolante desse, ainda mais desumanizador das pessoas em condição de pobreza, bem que necessitava uma discussão publica ampla.
Por exemplo, discutir o direito do cidadão de ter acesso a uma alimentação saudável, em suas formas naturais (frutas, legumes, verduras); discutir que as coisas que come tenham um sabor natural, distinto em cada produto; discutir que os cidadãos sejam tratados como iguais também face à alimentação.
Este projeto representa a quintessência do nutricionismo alienado e alienante. Todos os produtos orgânicos possuem nutrientes, é claro. Mas a forma humana de comer requer “comida com cara de comida” (Michael Pollan), e é esta condição de coisa culturalmente dada que transforma o comedor em cidadão; não os nutrientes de ração.
A fome desumaniza. Jonathan Swift, que era deão da catedral de Saint Patrick, em Dublin, o demonstrou em modesta proposição (1729), peça imortal de sátira política que sugere, como solução dos problemas da fome na Irlanda, que os aristocratas comessem crianças engordadas para esse fim, ao invés de leitões.
Agora, no domingo (8), a Prefeitura de São Paulo anunciou que acaba de conveniar com a Plataforma Sinergia um programa chamado “Alimento para todos”. É uma daquelas tais parcerias com o setor privado que vem diluindo o poder público dia após dia.
Segundo a Prefeitura, a iniciativa “prevê a destinação de todos os tipos de alimentos de boa qualidade e dentro do vencimento para a produção do Allimento, um granulado nutritivo que será entregue às populações que enfrentam carências nutricionais no município”. Já segundo a Sinergia, que tem como executiva Rosana Perrotta, ex-Monsanto e ex-Controller na Mead Johnson Nutrition, o programa visa estabelecer:
• um sistema de beneficiamento de alimentos que não são comercializados pelas indústrias, supermercados e varejo em geral. São alimentos que estão em datas críticas de seu vencimento ou fora do padrão de comercialização, produzindo com eles a FARINATA (rebatizado agora como Allimento).
• FARINATA é 100% doada às populações que enfrentam a fome, aquelas que se enquadram nos diversos graus de insegurança alimentar ou atingidas por catástrofes naturais ou humanitárias.
• “É uma excelente nutrição pronta para o consumo”, totalmente segura e pode ser utilizada em sopas, pães, biscoitos, entre outros.
• Além do mais, é uma solução ambiental para os alimentos no âmbito da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Em síntese: será coletada a sobra de alimentos de vários pontos de distribuição e comercialização, montada uma fábrica para fazer dela uma gororoba granulada para ser distribuída aos pobres. Além disso, o consumo da gororoba chamada Allimento ajuda a solução ambiental no âmbito da Politica Nacional de Resíduos Sólidos – nome pomposo para a disposição final de lixo orgânico.
Esses novos biodigestores – os humanos – poderão ainda fazer pães, bolos, sopas, com a gororoba, antes de dar-lhe nova destinação final…a do cocô.
Uma solução engenhosa, com muita tecnologia diz a Prefeitura, e que conta com o beneplácito cristão como se vê no site do think tank. Uma solução bem ao estilo joão-doria-junior que tratará de pôr goela abaixo daqueles movidos pela fome o que antes era um problema de tratamento de lixo orgânico.
Convenhamos: o dispêndio de dinheiro público num programa mirabolante desse, ainda mais desumanizador das pessoas em condição de pobreza, bem que necessitava uma discussão publica ampla.
Por exemplo, discutir o direito do cidadão de ter acesso a uma alimentação saudável, em suas formas naturais (frutas, legumes, verduras); discutir que as coisas que come tenham um sabor natural, distinto em cada produto; discutir que os cidadãos sejam tratados como iguais também face à alimentação.
Este projeto representa a quintessência do nutricionismo alienado e alienante. Todos os produtos orgânicos possuem nutrientes, é claro. Mas a forma humana de comer requer “comida com cara de comida” (Michael Pollan), e é esta condição de coisa culturalmente dada que transforma o comedor em cidadão; não os nutrientes de ração.
A fome desumaniza. Jonathan Swift, que era deão da catedral de Saint Patrick, em Dublin, o demonstrou em modesta proposição (1729), peça imortal de sátira política que sugere, como solução dos problemas da fome na Irlanda, que os aristocratas comessem crianças engordadas para esse fim, ao invés de leitões.
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