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sábado, 28 de outubro de 2017

Paulo Nogueira Batista Jr.: presidente do BC me tirou do Banco dos Brics


pnbjr
Paulo Nogueira Batista Jr., um dos mais lúcidos economistas brasileiros (tem o “defeito” essencial de ser mentalmente brasileiro e entender que o mundo da economia é regido pela “turma da bufunfa” – expressão antológica que criou – mas sustentado pela “turma do trabalho”) explica hoje, de próprio punho, as razões de sua demissão do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco dos Brics.
Ele atribui, em seu artigo, diretamente ao presidente do Banco Central, Ilan Goldjan, a “armação” para fazer com que ele perdesse seu mandato, que ia até 2021.

Um sonho interrompido

Fui afastado do cargo que ocupava aqui em Xangai no Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), mais conhecido como Banco dos Brics. Escrevo em plena mudança, em meio a caixas e caixotes. Estou voltando para o Brasil, depois de mais de dez anos no exterior.
Fico feliz, pois dez anos já era demais. Há tempos pensava na volta, pois estava insatisfeito com o rumo que o NBD vinha tomando. Amigos e familiares diziam, unânimes: “Fica na China, o Brasil está péssimo”. Mas o Brasil, mesmo “péssimo”, é melhor do que a maioria dos países. Os brasileiros é que nem sempre estão à altura do Brasil.
Estou triste, entretanto, pela maneira como fui afastado do banco que ajudei a criar. Mais do que qualquer outro integrante do NBD, estive envolvido, a fundo, no processo que levou à criação do banco e do fundo monetário do Brics. Sonhávamos criar um banco global que estabelecesse novos padrões no financiamento do desenvolvimento.
A minha desestabilização começou por iniciativa de alguns funcionários do governo brasileiro. Destacou-se na operação um certo Marcelo Estevão, assessor do ministro da Fazenda, sujeito atabalhoado que, segundo me disse um ministro de Estado, é motivo de chacota em Brasília. Mas não vou gastar pólvora com ximango. O líder da operação foi o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Mal conheço o Goldfajn, mas, por motivos não totalmente claros, ele meteu na cabeça que precisava forçar a minha saída. Saiu dos seus cuidados como autoridade monetária para liderar uma verdadeira perseguição contra mim.
Para me demitir havia, porém, uma dificuldade. Tinha mandato até 2021 e não podia ser simplesmente afastado. Era preciso demonstrar que eu quebrara o código de conduta do banco.
Colocaram então pressão sobre o presidente do NBD e induziram-no a abrir contra mim dois processos administrativos. O primeiro teve origem na minha recomendação de demitir um funcionário brasileiro, Sergio Suchodolski, que tivera desempenho pífio no período probatório. Esse funcionário foi instado a entrar com queixa contra mim, com alegações de assédio moral. A acusação não prosperou, pois não havia evidências. A única coisa indubitável era a péssima atuação do tal brasileiro.
O que prosperou foi uma segunda acusação: a de que eu teria atentado contra o código de conduta em alguns artigos publicados nesta coluna. A acusação era ridícula. Mas o advogado contratado pelo banco para investigar o assunto concluiu que em alguns poucos artigos eu quebrara a neutralidade política e comentara assuntos político-partidários. Não havia base para tal conclusão, que desmontei por escrito, mas a questão dos artigos era mero pretexto.
Enfim, passou. Ficou uma sensação de decepção e sonho interrompido. É um sonho perfeitamente possível esse de criar um novo banco de desenvolvimento de alcance global, lançado por países emergentes, que poderia em alguns anos rivalizar com o Banco Mundial e outros bancos controlados pelos países desenvolvidos.
Mas os sinais que o NBD está dando, inclusive na forma como me tratou, sugerem que esse sonho dificilmente se realizará. Só uma nova administração poderá revigorar o banco e colocá-lo no rumo sonhado. Talvez o futuro da instituição esteja nas mãos do Brasil, que indicará o seu próximo presidente em 2020.

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