A estratégia de Michel Temer é clara. Ao pedir a suspensão do inquérito no Supremo Tribunal Federal, ele tenta ganhar tempo para estancar a sangria política que ameaça sua sobrevivência no cargo.
Os sinais de anemia têm se multiplicado desde o início da crise. No sábado (20), o presidente foi abandonado pelo PSB, que anunciou o rompimento com o governo. Se o movimento se alastrar, ficará claro que ele perdeu as condições de se sustentar no Planalto.
Temer parecia abatido quando começou a ler seu segundo pronunciamento em três dias. Aos poucos, elevou o tom e passou a atacar o empresário Joesley Batista, dono da JBS e autor da delação-bomba à Lava Jato.
Acusado, o presidente buscou desqualificar o acusador. Disse que ele praticou um "crime perfeito", "prejudicou o Brasil" e agora está "livre e solto em Nova York".
Sem citar o nome de Rodrigo Janot, Temer também mirou o procurador-geral da República ao se dizer alvo de uma "acusação pífia" de corrupção. O ministro Edson Fachin parece discordar, já que autorizou a abertura do inquérito no STF.
O presidente se agarrou à tese, levantada por peritos, de que o áudio da conversa com Joesley teria sofrido edições. "Essa gravação clandestina foi adulterada e manipulada com objetivos subterrâneos", acusou.
A polêmica é útil a Temer porque permite que ele direcione o foco para a fita, deixando de esclarecer outras suspeitas graves. Sobre elas, continuam a faltar explicações convincentes. O presidente disse que indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures para "ouvir as lamúrias" do dono da JBS. No entanto, a PF o filmou fazendo outra coisa: recebendo uma mala de dinheiro de um lobista enviado por Joesley.
Temer também disse que "não acreditou" quando o empresário contou ter subornado dois juízes. A lei obriga o servidor que ouve o relato de um crime a comunicá-lo às autoridades competentes. O presidente não poderia silenciar sobre a confissão por considerar que seu autor é um "falastrão".
Outras acusações de Joesley, como as cobranças de propina e mensalinho para aliados, foram solenemente ignoradas no pronunciamento.
Por fim, Temer entrou em contradição com seu próprio discurso inicial. Na quinta-feira, ele defendeu uma investigação "muito rápida" e disse que o desfecho do caso "não poderia tardar". Agora, recorre ao STF para tentar paralisar o inquérito em sua fase inicial.Por Bernardo Mello Franco
Os sinais de anemia têm se multiplicado desde o início da crise. No sábado (20), o presidente foi abandonado pelo PSB, que anunciou o rompimento com o governo. Se o movimento se alastrar, ficará claro que ele perdeu as condições de se sustentar no Planalto.
Temer parecia abatido quando começou a ler seu segundo pronunciamento em três dias. Aos poucos, elevou o tom e passou a atacar o empresário Joesley Batista, dono da JBS e autor da delação-bomba à Lava Jato.
Acusado, o presidente buscou desqualificar o acusador. Disse que ele praticou um "crime perfeito", "prejudicou o Brasil" e agora está "livre e solto em Nova York".
Sem citar o nome de Rodrigo Janot, Temer também mirou o procurador-geral da República ao se dizer alvo de uma "acusação pífia" de corrupção. O ministro Edson Fachin parece discordar, já que autorizou a abertura do inquérito no STF.
O presidente se agarrou à tese, levantada por peritos, de que o áudio da conversa com Joesley teria sofrido edições. "Essa gravação clandestina foi adulterada e manipulada com objetivos subterrâneos", acusou.
A polêmica é útil a Temer porque permite que ele direcione o foco para a fita, deixando de esclarecer outras suspeitas graves. Sobre elas, continuam a faltar explicações convincentes. O presidente disse que indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures para "ouvir as lamúrias" do dono da JBS. No entanto, a PF o filmou fazendo outra coisa: recebendo uma mala de dinheiro de um lobista enviado por Joesley.
Temer também disse que "não acreditou" quando o empresário contou ter subornado dois juízes. A lei obriga o servidor que ouve o relato de um crime a comunicá-lo às autoridades competentes. O presidente não poderia silenciar sobre a confissão por considerar que seu autor é um "falastrão".
Outras acusações de Joesley, como as cobranças de propina e mensalinho para aliados, foram solenemente ignoradas no pronunciamento.
Por fim, Temer entrou em contradição com seu próprio discurso inicial. Na quinta-feira, ele defendeu uma investigação "muito rápida" e disse que o desfecho do caso "não poderia tardar". Agora, recorre ao STF para tentar paralisar o inquérito em sua fase inicial.Por Bernardo Mello Franco