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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Os deuses mandam flores a família de seus mortos

Tijolaço

Velorio (1)
É dolorosamente cínica a nota que as associações de policiais, procuradores e juízes federais divulgaram  ontem, através da Folha.
Cumprida a formalidade burocrática de apresentarem pêsames e dizer  – caponianamente – que “se solidarizam com sua família nesse momento de dor” dizem que “vêm a público repudiar afirmações de eventuais exageros”  na operação que levou à prisão e à morte do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier.
E por que não houve “eventuais exageros”?
Houve investigação dos procedimentos adotados? Não
Houve reavaliação sobre o ato de prender alguém sem ouvi-lo, pela simples alegação de uma ou duas pessoas de que ele “não queria” investigar supostos problemas que teriam ocorrido, inclusive, fora de sua gestão? Não
Algum tipo de reflexão sobre o significado de levar à cadeia um reitor já pelos seus 60 anos, tirar-lhe as roupas, penetrar-lhe as intimidades? Não.
Sabe por que delegados, promotores e juízes federais podem garantir que não houve “eventuais exageros” no episódio?
Porque, para eles, as corporações de  deuses da lei, não há limites e, portanto, não há exageros.
Os integrantes das respectivas carreiras, não apenas na referida operação, como também no exercício de suas demais atribuições funcionais, norteiam-se pelos princípios da impessoalidade e da transparência, atuando de forma técnica e com base na lei.”
E o que o garante? Ora, eles próprios e, por isso, nem é preciso investigar e reavaliar. La garantia somos nosotros, los dioses.
Criticar-se erros policiais e judiciais agora é fazer aquela coisa sórdida, a política: “uma tragédia pessoal não deveria ser utilizada para manipular a opinião pública”.
Que manipulação, doutores? Um ou outro colunista de jornal reclamando?
Porque a grande mídia manteve quase completo silêncio e, ao contrário, participou da história de que o homem agora morto tinha desviado dinheiro num tempo em que nem dirigente da Universidade era.
Sublimes, do seu Olimpo, dizem: “as autoridades públicas em questão, em respeito ao investigado e a sua família, recusam-se a participar de um debate nessas condições”.
Quais são as condições que “podem”? Aqueles em que vocês estão sempre certos e o resto “não vem ao caso”?
Vocês deixaram, faz tempo, de representar a lei e a Justiça. Representam, agora, a arrogância, a desumanidade e a soberba autoritária.
Deveriam, a esta hora, estar pedindo e colaborando para esclarecer a tragédia da morte de um homem.
Mas se não são capazes disso,  fiquem quietos e não produzam tal cinismo.
Respeitem, ao menos, a família do morto e seus amigos.

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