Por Antonio Magalhães*
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
O poeta pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968) escreveu “O Bicho” em 1947 como dura crítica à realidade brasileira da época. O bicho/homem que escandalizou o poeta continua fazendo parte da tragédia nacional na segunda década do século 21. Vítima da desigualdade social, da insegurança alimentar, da falta de moradia, mazelas que nenhum governante nacional, estadual, municipal conseguiu resolver.
O vídeo que viralizou nas redes sociais de algumas mulheres vasculhando o caminhão de lixo em Fortaleza, Ceará, não traz nenhuma novidade para os habitantes das grandes cidades desse país. Todas as noites carroças circulam pelas ruas do Recife e adjacências recolhendo lixo reciclável que hoje é um meio de vida para catadores autônomos ou associados em cooperativas
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