De O PODER
charlesnasci@yahoo.com.br
O bispo da diocese de Nazaré da Mata, Pernambuco, Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, precisou de proteção policial para sair do cemitério, após o enterro do padre Geraldo de Oliveira, em Surubim, no Agreste. Aparentemente, o padre Geraldo tirou a própria vida dentro da Igreja de São Sebastião, anteontem. Deixou uma carta-testamento de quatro páginas, responsabilizando dois colegas de sacerdócio pelo ato. O conflito era antigo. A população xingou o bispo de assassino, omisso, e atirou palavras de baixo calão. O prelado chegou a ser puxado pelas vestes.
BISPO ADMITE SUICÍDIO
O constrangimento de D. Francisco era visível ao longo do dia. A família curvou-se às evidências e mesmo sem o parecer definitivo da Polícia, admitiu o que toda a população do Agreste de Pernambuco acha que aconteceu: o auto assassinato do padre Geraldo de Oliveira, anteontem, na igreja de São Sebastião, em Surubim. A fala do bispo Dom Francisco na missa exequial (de expiação) celebrada ontem à tarde na igreja onde aconteceu a tragédia, não mencionou suicídio. Mas todo o sentido das palavras ditas com insegurança, conduziam a essa constatação. A polícia também não trabalha com outra hipótese. Entretanto, as dúvidas em torno do caso não apenas permanecem. Aumentam a cada instante.
PADRES ACUSADOS FOGEM
Os padres Severino e Amaro, da paróquia de São Sebastião, em Surubim, foram duramente acusados pelo padre Geraldo de Oliveira em sua carta-testamento como responsáveis pela situação insustentável em que se encontrava. As humilhações e agressões sofridas por ele foram o provável motivo de sua morte. Após a divulgação do teor da carta, ambos sumiram do município. Onde estão? Fugiram? Estão sendo escondidos pela diocese? Essa fuga é mais um mistério que cerca uma morte inusitada, aparentemente fácil de decifrar porém cercada de dúvidas por todos os lados. Os indícios levam à conclusão que a polícia elegeu como única hipótese a investigar: suicídio.
Pessoas que acompanharam a perícia e o levantamento do corpo comentaram que o padre, encontrado entre dois bancos da igreja, com a cabeça apoiada em travesseiro, trazia uma denúncia adicional. Colado na sua barriga um papel indicava que os padres Severino e Amaro eram os responsáveis por aquela situação. Não há registro oficial de que tenham sido ouvidos pela polícia.
A CARTA
Uma sobrinha do padre morto fez duras acusações aos companheiros de batina citados. A missa de corpo presente, celebrada ontem em São Caetano, onde ainda residem os parentes mais próximos do falecido, teve tanta gente que a igreja matriz não comportou. A cerimônia foi realizada do lado de fora, no alto das escadarias. De lá, a sobrinha confessou que o tio tinha lhe entregue a carta no final de dezembro, com orientação expressa para que fosse encaminhada ao bispo Dom Francisco no dia 31 de janeiro. Nesse dia, o padre Severino celebrou sua última missa. Depois, pediu ao sacristão para fechar a igreja e deixar a porta da torre aberta, ordem que não foi obedecida. Ao lado do corpo estavam uma bolsa contendo uma corda, o que sugere uma possível opção pelo enforcamento. Também foram encontrados no lixeiro do recinto uma garrafa de champagne quebrada e dois recipientes que supostamente continham veneno.
No seu discurso em tom sereno porém firme e seguro, em São Caetano, a sobrinha garantiu que não tinha lido o documento, apesar de autorizada pelo tio. Apenas, segundo disse, tirou cópias que deveriam ser dirigidas a cerca de 30 pessoas de Surubim. Assegurou ainda que os dois sacerdotes, Severino e Amaro, apontados como contumazes molestadores e agressores pelo morto na sua carta, teriam sua conduta espiritual julgada por Deus. Mas os seus atos como pessoas teriam que ser punidos nesta terra e para tal a família iria adotar os procedimentos jurídicos cabíveis. Em Surubim, tomada pela emoção, a representante da família não conseguiu falar.
SUPOSIÇÕES
Antes mesmo do início da missa, circulavam rumores de que o bispo teria conversado com a moça, tentando convencê-la a baixar o tom contra os padres acusados. Pelo sim, pelo não, a fala não aconteceu.
COMOÇÃO
A chegada do corpo em Surubim provocou uma enorme comoção. Centenas de coroas de flores foram enviadas pelos paroquianos. Todos os atos foram acompanhados por uma multidão emocionada.
SUPOSIÇÕES
Antes mesmo do início da missa, circulavam rumores de que o bispo teria conversado com a moça, tentando convencê-la a baixar o tom contra os padres acusados. Pelo sim, pelo não, a fala não aconteceu.
COMOÇÃO
A chegada do corpo em Surubim provocou uma enorme comoção. Centenas de coroas de flores foram enviadas pelos paroquianos. Todos os atos foram acompanhados por uma multidão emocionada.
AUTÓPSIA
Até o fechamento desta edição, a polícia Pernambucana ainda não tinha divulgado o laudo oficial da autópsia, realizada ontem no Instituto de Medicina Legal, no Recife.
RIVALIDADES E DIVERGÊNCIAS
A carta-testamento, de quatro páginas, dirigida ao padre Severino Correia da Silva e à comunidade, relata rivalidades, divergências, agressões leves, discriminação, mágoas. Um conjunto de motivos isoladamente sem maior gravidade. Na verdade, um mosaico pouco edificante. Porém insuficiente para conduzir o padre Geraldo a um desfecho trágico e totalmente inesperado.
QUEM ERA
O padre Geraldo de Oliveira, de 77 anos, estava aposentado mas ainda fazia celebrações e um reconhecido trabalho social. Era religioso há cinco décadas, comemoradas no último dia 2 de janeiro. Há 27 anos ele morava em Surubim. Antes, foi pároco nas cidades de Agrestina e São Caetano, em Pernambuco. Também foi professor de Filosofia da extinta faculdade Fafica, em Caruaru.
Uma das marcas da sua atuação era o trabalho social. Ele construiu 78 casas em Surubim e outras 20 em Nazaré da Mata para famílias carentes. Realizava também, de forma permanente, campanhas para doação de cestas básicas, colchões e roupas. Nestas ações filantrópicas, contava com a colaboração de amigos que residem na Alemanha, país que visitava regularmente. Devoto de Padre Cícero, criou a Missa dos Romeiros em Surubim e na cidade vizinha de João Alfredo.
ESCLARECIMENTOS
Depois da perícia, muitas perguntas deverão ser respondidas. Foi mesmo envenenamento ? (o povo fala no uso do popular chumbinho, veneno para ratos). Quem foi responsável pela administração da substância? Onde foi adquirida e por quem? O padre Geraldo tinha notórios problemas de visão além de grande dificuldade para o uso de equipamentos eletrônicos. Quem digitou e imprimiu a carta? Ele mesmo? Ou contou com a ajuda de um terceiro? A sobrinha garante que recebeu a carta já digitada, para tirar cópias e remeter. Como não leu, não desconfiou das intenções do tio. Alguém praticou ou ajudou na consumação do ato? Mistérios a serem esclarecidos com a ação cautelosa e criteriosa da polícia.
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