Editorial do Magno Martins
Construção do perfil político
O Governo de Paulo Câmara gera uma grande expectativa como toda gestão pública, mas há um diferencial que se sobrepõe a ele, que é de natureza política. Jovem e fabricado na escola eduardista, Câmara não tem ainda uma identidade nessa área que possa ser visível, mesmo com muito esforço.
Por isso mesmo, a pergunta que se ouve mais entre aliados e adversários é a seguinte: o governador se afirma politicamente? Eis o grande desafio de Paulo Câmara, que ontem cumpriu mais uma etapa do processo eleitoral ao ser diplomado pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Câmara não é do metier político, nunca havia disputado uma eleição, viveu pouco ou quase nada de bastidores e por isso sua caminhada será longa em busca da afirmação. Não se forja um político da noite para o dia. O próprio Eduardo, mesmo sendo neto de Arraes, teve que conhecer primeiro o inferno, quando teve seu nome envolvido no escândalo dos precatórios.
Sua afirmação política se deu quando transformou o limão do esvaziado Ministério da Ciência e Tecnologia numa limonada. A partir dali, reconstruiu sua imagem de gestor e se reafirmou politicamente. Morreu precocemente quando vivia o melhor momento político da sua carreira.
Diz Maquiavel que o príncipe tem que ser amado e temido. Eduardo impunha medo aos adversários, aos secretários, aos aliados e até mesmo aos conselheiros mais próximos. Quando queria seduzir, era um doce! Quando pisava em seus calos, implacável.
Eduardo aliou à imensa capacidade gestora ao talento e a arte de fazer política. E reinou absoluto no Estado porque soube se impor politicamente. Que Paulo Câmara posse se inspirar nele, para que não comece a gerar desconfianças. Na formação da sua equipe, Câmara gerou a primeira desconfiança.
Permitiu a criação de grupos em seu governo, um formado a partir do núcleo da Casa Civil com Antônio Figueira, outro enraizado na área de planejamento com Danilo Cabral. Isso sem falar na força do prefeito do Recife, Geraldo Júlio, que, segundo as paredes do Palácio do Capibaribe e o rouxinol que canta nos jardins das Princesas, tem forte poder de influência sobre Câmara.
E isso, se vier a ser comprovado ao longo da sua gestão, será muito ruim para Câmara e o Estado, porque o governador eleito vai contrariar uma velha lição do ex-governador Agamenon Magalhães, que dizia: “Ninguém governa governador”.
Que seja assim com Câmara!
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