Nada é mais importante, numa força militar, que a disciplina. Sem ela, uma força armada não é uma garantia de um país, mas uma ameaça.
A reportagem de hoje do El País sobre os “comícios” de Jair Bolsonaro – Quartéis se abrem para a campanha eleitoral de Bolsonaro – dentro de unidades militares é uma vergonha para os comandantes não só destes quartéis, mas das próprias Forças Armadas.
O que se diria se Lula ou Ciro Gomes fossem fazer discursos dentro dos quartéis? Ou se lá fossem Guilherme Boulos ou João Pedro Stédile?
Por acaso eles são menos cidadãos brasileiros que Jair Bolsonaro?
Mas isso é menos preocupante do que o efeito eleitoral – mínimo – destes comícios indevidos.
O grave é que se formam oficiais que, desde a formatura, aprendem que os regulamentos militares, a separação entre Forças Armadas e política eleitoral, o respeito à lei, tudo isso não vale nada.
Os chefes militares brasileiros conspiram contra si mesmos. Aqueles que permitem que se faça, por Bolsonaro, o que dizia a frase do insuspeito de esquerdismo Marechal Castello Branco – “como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do Poder Militar ” – estão sujeitos a, amanhã, terem suas ordens descumpridas.
Afinal, não é isso o que assistem, impávidos, ser feito?
A omissão é uma bola de neve rolando montanha abaixo. Quando se quiser agir, será tarde demais.
O poder civil estar desmoralizado não é razão para que desmoralize também o militar.
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