Em depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República (PGR) no dia 23 de agosto e divulgado pela Folha de S.Paulo neste sábado (14), o doleiro Lúcio Funaro afirma ter "certeza" de que parte da propina de esquemas de corrupção do ex-deputado Eduardo Cunha iam para o presidente Michel Temer.
"Tenho certeza que parte do dinheiro que era repassado, que o Eduardo Cunha capitaneava em todos os esquemas que ele tinha, dava um percentual também para o Michel Temer. Eu nunca cheguei a entregar, mas o Altair [Altair Alves Pinto, emissário de Cunha] deve ter entregado, assim, algumas vezes", diz Funaro no depoimento.
Ainda segundo o operador financeiro, Temer nunca pegou dinheiro porque "tinha receio de se expor", mas "tinha conhecimento dos fatos".
"O Eduardo às vezes chegava pra ele e falava 'pô, precisamos fazer esse favor aqui e em troca disso vai ter uma doação'. No passado isso era considerado 'ah, deu um dinheiro para campanha', mas hoje nós sabemos que isso não é dinheiro para campanha. Isso aí é propina. Tem um nome específico. Propina. É a troca do teu poder, prestígio político, influência política em troca de uma doação para campanha, que o cara traveste isso aí de doação. É propina. Não tem outro nome. Propina", diz Funaro.
Funaro também menciona Temer no pagamento de propina em forma de doação eleitoral pelo empresário Henrique Constantino, sócio da Gol Linhas Aéreas, para a campanha de Gabriel Chalita, então candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo na eleição de 2012, quando Temer era vice-presidente da República.
"A campanha do Chalita precisava de um dinheiro e o Henrique Constantino tinha um projeto para ser aprovado no FI-FGTS. [...] Aí eu pedi pro Henrique Constantino: 'oh, precisava de um adiantamento para a campanha do Chalita'. E ele falou 'tudo bem, mas era bom o vice-presidente me ligar'. Aí eu peguei, passei uma mensagem para o Eduardo. Falei 'oh, pede pro Michel ligar pro Henrique e agradecer a contribuição que ele está dando para a campanha do Chalita'. Não deu dez minutos, o Michel ligou no telefone do Henrique e agradeceu", afirmou.
O doleiro diz ter visto "diversas vezes o Michel Temer ligar para o Eduardo Cunha para tratar de doação de campanha", mas não soube informar se tratavam de repasses oficiais. "Não posso falar se essa doação era lícita ou não lícita".