Já que estamos nesta bobagem de Haloween, que tal fazer um raciocínio sobre como o medo é um fator de determinação de comportamento que, durante séculos e séculos, usou-se sobre o lado infantil de uma sociedade?
Muitas centenas de anos atrás, eram os bárbaros, os hunos, os árabes, os conquistadores-devastadores do ponto de vita dos romanos e, depois, dos cristãos.
No século 20, os comunistas, os judeus, as drogas e, na passagem para o 21, os islâmicos, os terroristas.
No Brasil recém imerso na selvageria pelo golpe, os “petralhas” corruptos (os corruptos não-petralhas não merecem indignação) e, depostos estes, agora os os “pedófilos”, os dissolvedores da família, promotores da ideologia de gênero e – que perigo! – os professores nas escolas, que aceitam receber salários miseráveis e suportar adolescentes agressivos para doutriná-los no marxismo.
Francamente, é preciso apostar num grau de infantilidade que não combina com a realidade de homens e mulheres que lutam para viver- e como têm de lutar! – hoje em dia.
Eliane Brum, sempre uma escrita gentil, pergunta, em ótimo artigo no El País, com um título que bem resume a história, Como fabricar monstros para garantir o poder em 2018:
Pense. Preste atenção na sua vida. Olhe bem para seus problemas. Observe a situação do país. Você acredita mesmo que a grande ameaça para o Brasil – e para você – são os pedófilos? Ou os museus? Quantos pedófilos você conhece? Quantos museus você visitou nos últimos anos para saber o que há lá dentro? Não reaja por reflexo. Reflexo até uma ameba, um indivíduo unicelular, tem. Exija um pouco mais de você. Pense, nem que seja escondido no banheiro.
Seria fascinante, não fosse trágico. Ou é fascinante. E também é trágico. No Brasil atual, os brasileiros perdem direitos duramente conquistados numa velocidade estonteante. A vida fica pior a cada dia. E na semana em que o presidente mais impopular da história recente se safou pela segunda vez de uma denúncia criminal, desta vez por obstrução da justiça e organização criminosa, e se safou distribuindo dinheiro público para deputados e rifando conquistas civilizatórias como o combate ao trabalho escravo, qual é um dos principais assuntos do país?
A pedofilia.
Seria fascinante, não fosse trágico. Ou é fascinante. E também é trágico. No Brasil atual, os brasileiros perdem direitos duramente conquistados numa velocidade estonteante. A vida fica pior a cada dia. E na semana em que o presidente mais impopular da história recente se safou pela segunda vez de uma denúncia criminal, desta vez por obstrução da justiça e organização criminosa, e se safou distribuindo dinheiro público para deputados e rifando conquistas civilizatórias como o combate ao trabalho escravo, qual é um dos principais assuntos do país?
A pedofilia.
Chocante, não? E o pior: ao dizer que tentam distrair a opinião, histéricos gritam que você defende a pedofilia! Distraem nossa atenção, adubam nossos medos, como às crianças acenam com o lobo, o bicho-papão, as bruxas e os monstros. Todas as noites, todos os dias nos contam, com voz soturnas histórias “terríveis” (que nunca tinham aterrorizado ninguém) e que, contadas, produzem outras.
Em 2018 e adiante, o desafio é acender as luzes, espantar a treva e a histeria, o ódio e a intolerância e não o faremos como uma reação “igual e contrária”, como dizem as leis da Física.
O antídoto a este veneno mental é a realidade, porque a realidade é aquilo para o que não têm respostas; todas as suas supostas razões estão no imaginário que nos tentam impingir.
A verdade, essa força que rompe os impasses, é a realidade.
O resto é mito e o mundo não é como a caverna de Sócrates e Glauco.
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