Numa casa, 11 pessoas ficaram feridas. Duas morreram. Caso ocorreu no Zumbi do Pacheco, em Jaboatão. Estado tem mais de cem mortos devido às chuvas.
Pedro Alves e Bianka Carvalho, g1 PE e TV Globo
"Ela morreu nos meus braços, soterrada comigo. A gente estava agarrado, estava dormindo de conchinha. E ela morreu nos meus braços. Morreu falando, e ainda me deu xau. Disse ‘eu estou morrendo, Glaucio, xau, estou morrendo’. Assim que aconteceu".
A fala é do serralheiro Glaucio José da Silva, que perdeu a esposa, Luci Maria da Silva, de 48 anos, num deslizamento de barreira em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, no sábado (28) (veja vídeo acima com o depoimento).
A mulher é uma das mais de 100 pessoas que perderam a vida no desastre que deixou mais de 6 mil desabrigados. Ainda há dez desaparecidos, segundo o balanço mais recente do governo estadual.
Lucia Maria da Silva, de 48 anos, morreu soterrada por barreira em Jaboatão — Foto: Reprodução/WhatsApp
Na casa de Glaucio, 11 pessoas ficaram feridas. Duas morreram. Além da esposa, morreu o marido da cunhada dele, Francisco Claudino de Oliveira, de 61 anos.
Havia muita gente na residência para a festa de aniversário da esposa do idoso que morreu. Ele morava em Caruaru, no Agreste, e estava na casa dos cunhados para a festividade. A família mora no Loteamento Campo Verde, no Zumbi do Pacheco.
Francisco Claudino de Oliveira, de 61 anos, é uma das vítimas de deslizamento de barreira em Jaboatão — Foto: Reprodução/WhatsApp
"Ela foi no banheiro e a gente tinha acabado de deitar, aí escutou o estrondo e não deu tempo de fazer mais nada. Eu me abracei, protegi ela e pronto. Não deu mais nada", declarou o serralheiro.
Segundo o serralheiro, quem o salvou foram vizinhos, que o retiraram do meio da lama e dos escombros da casa. Os corpos, segundo ele, também foram encontrados e removidos pelos moradores.
"Bem material não importa, o que importa é minha esposa, que eu não vou ter ela mais. A vizinhança, a população me salvou. Não tinha bombeiro, nada. Já estava escuro, chovia muito. A barreira continuava caindo, mas graças aos meus vizinhos, estou aqui. Se não fosse a vizinhança, eu não estava aqui, não. Perdi tudo, minha casa, minha oficina, minhas máquinas, e meus carros estão ali soterrados. E meu bem maior eu queria que estivesse aqui comigo, minha esposa", declarou.
A casa de Glaucio ficava embaixo de uma barreira onde foi construído um conjunto residencial. O mirante do residencial caiu junto com a barreira sobre a casa da família. Também há uma piscina na beira da encosta. Ele atribui à construção dos prédios a fragilidade da barreira.
"Faz 30 anos que eu moro aqui, não existia esses prédios. Era só a barreira, natural, e nunca caiu nada. Pelo contrário, a gente tinha lucro com essa barreira, porque descia areia, a gente vendia a areia e ganhava dinheiro. Depois que eles fizeram isso, aconteceu essa tragédia. Fora os outros problemas. Eu já tinha dado parte porque os moradores jogavam pedra, coco, garrafa", declarou.
Postado por Madalena França
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