Aos 62 anos, remanescente da comunidade quilombola Olho D água Cercado, a 6 km do centro urbano de João Alfredo, Socorro Soares (PP) recebeu a segunda maior votação entre os 11 vereadores do município – 1.062 votos – na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital Português, no Recife, para onde foi transportada, já desacordada por uma forte dor na cabeça, faltando cinco dias para as eleições de 2 de outubro passado.
Não teve direito sequer a votar nela própria e só soube que estava eleita uma semana depois, quando reagiu lentamente à enfermidade que lhe tirou a visão, também, por 29 dias. “Fiquei cega por quase um mês e o médico chegou a falar que se eu escapasse ficaria sem enxergar para o resto da vida”, diz a parlamentar, que regressou ao município há dez dias, já com a visão recuperada. Segunda-feira passada, em meio a uma grande emoção vivida por ela e seus pares, foi bater o ponto na Câmara, com outro semblante, já sem os longos cabelos pretos, roubados pelas sessões de radioterapia.
No plenário da Câmara, onde vai iniciar ser terceiro mandato, Socorro agradeceu a belíssima votação, a solidariedade do seu povo e prometeu retribuir fazendo mais do que já faz pelo social, marca da sua ação parlamentar. Em sua região de atuação, ela é conhecida como a vereadora da saúde, porque usa seu carro particular, um velho Fiat, para transportar doentes aos hospitais da região e Recife.
Socorro sofreu um forte apagão em consequência de um edema cerebral. Há dois anos, ela extraiu uma mama e, de imediato, os médicos passaram a desconfiar que o seu caso pudesse ser um novo câncer, desta feita no cérebro. Depois de passar por dois dos hospitais, inclusive um especializado, o Hospital do Câncer, no Recife, a vereadora saberá em definitivo seu diagnóstico amanhã, quando receberá os exames feitos durante o período em que esteve internada.
Mulher de fé e guerreira, de uma energia tão positiva que foi apelidada de “Duracel”, pelos pacientes do Hospital do Câncer, Socorro está otimista. “Eu sei que não tenho mais nada e os exames vão confirmar que estou curada”, antecipa. Embora a fé mova montanhas, sua família está bastante apreensiva.
“Os médicos que estão acompanhando o seu caso suspeitam de um câncer no cérebro, mas ela acha que não tem nada”, diz a filha Jaira Soares, que a socorreu para o hospital praticamente na véspera da eleição. Segundo ela, a notícia que se espalho nos tradicionais redutos eleitorais da brava parlamentar é que estaria morta. “O povo ficou ligando para saber se ainda podia votar nela, porque o boato era de que minha mãe havia morrido”, conta.
Mesmo diante de tamanha boataria, sem que a família tivesse a certeza de que a matriarca voltaria vivinha da silva para os seus, os eleitores deram a Coca, como é conhecida, uma votação mais expressiva do que a do pleito anterior, em 2012. “Eu acho que o povo ficou impactado e votou solidário à minha dor”, afirma a parlamentar, para quem, neste episódio, a pior coisa que ocorreu foi ter deixado de votar. “Já pensou de eu tivesse perdido por um voto? Eu ia arrancar a goela do médico que me proibiu de sair da UTI”, brinca.
Com três mandatos, já incluindo o que estreia em 1 de janeiro, Socorro só perdeu uma eleição: quando disputou com o ex-marido José Pereira, o Dudé, em 2000. As brigas conjugais se estenderam para o campo da política, mas nenhum dos dois foi eleito. Politicamente ligada ao grupo do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, também ex-prefeito do município, Socorro ficou surpresa com a solidariedade da família.
“Dona Olga dormiu duas noites no hospital quando fui internada e me deu assistência como se fosse uma filha”, relata, referindo-se à esposa do deputado José Maurício, filho de Severino. “Isso não tem preço”, acrescenta. Na verdade, tão logo soube do quadro preocupante da parlamentar, o deputado conseguiu sua internação no Hospital Português e em seguida a sua transferência para o Hospital do Câncer.
Colega de Socorro na Câmara de João Alfredo, o vereador David Santos, que emplacou seu oitavo mandato consecutivo pelo PSD, revela que nunca conheceu uma mulher de tamanha fé como Socorro. “Eu cheguei ao hospital triste e abatido, quando a visitei, pensando que ia encontrar minha amiga choramingando da vida. Sai de lá feliz e animado tamanha a energia positiva que ela transmitiu”, lembra.
“Eu nunca perdi a esperança e no hospital, depois de rezar todos os dias o meu terço eu irradiava vida para todo mundo”, diz a vereadora, que já faz prognósticos para o terceiro mandato. “Vou continuar fazendo o que sempre fiz, dando assistência ao meu povo. Moro numa comunidade rural muito pobre, onde falta de tudo. A ambulância daqui é o meu carro, que uso para transportar doentes”, afirmou, para acrescentar: “Enquanto disposição tiver para trabalhar pelo povo, assim o farei”.
Solidária e humana, Socorro diz que pedirá aos deputados para convencer o Governo a adquirir um novo equipamento de quimioterapia para o Hospital do Câncer. “Eu não tenho do que falar do tratamento que recebi, o hospital é muito bom, mas o aparelho que estão usando lá para os procedimentos da quimio é muito antigo”, desabafa. “O que eu puder fazer para que isso se torne uma realidade farei”, afirmou.
HISTÓRIA
João Alfredo se destaca no Agreste Setentrional por ter uma das maiores feiras livres da região, além de ser também polo moveleiro. O município é composto pelos povoados de Tamanduá, Frei Damião, Brejinhos, Antas, Campos do Borba, Lagoa Funda, Parari, Pau Santo, Melancia, Ribeiro Grande, Capau e Roque.
Originou-se de uma fazenda instalada na localidade do Imbé, nos meados do século XVIII, pelo capitão português Antônio Barbosa da Silva. Anos depois, em virtude da escassez d’água naquela região, o colonizador resolveu transferir a sede da propriedade para o local onde se situa atualmente a cidade, aproveitando o manancial hídrico de uma lagoa existente onde hoje está erguido o Ginásio Poliesportivo Djair Santos.
Em 1779 as famílias Holanda Cavalcanti e Alves do Rêgo adquiriram a posse da propriedade e passaram a chamá-la de “Boa Vista”. Em 1785 construíram um pequeno engenho de tração animal, ao qual deram o mesmo nome da fazenda. Em 1820, a propriedade foi vendida a Francisco Antônio, chefe político do Curato de Bom Jardim, que, em 1850 passou o comando para João Felipe de Melo, também bonjardinense. Em 1877, com o falecimento de João Felipe de Melo, o engenho foi adquirido pelo capitão José Francisco Cordeiro de Arruda.
Em 1879 o coronel José Ferreira da Silva, que também era proprietário do Engenho Melancia, adquiriu o engenho Boa Vista, abrindo grandes benfeitorias no mesmo e transformando a área circunvizinha em um pequeno aglomerado residencial. Em 1900, obteve da municipalidade de Bom Jardim uma licença para a promoção de uma feira-livre semanal e iniciou a construção de uma capela em devoção à Nossa Senhora da Conceição. A primeira feira-livre foi realizada no dia 06 de janeiro de 1901 e a capela foi inaugurada no dia 18 de junho do mesmo ano, com Missa solene celebrada pelo padre João Pacífico Ferreira Freire.
Em 1902, mais casas foram construídas e apareceram os primeiros estabelecimentos comerciais. No ano de 1906 foi criada a Subdelegacia de Polícia, sendo designado como titular José Soares Cordeiro. Em 1909 o engenho e as casas a ele aglomeradas foram considerados oficialmente como Povoado, recebendo o nome de “Boa Vista da Conceição”. Em 1912 foi fundada a primeira escola municipal, sendo indicada a professora Joana Nóbrega de Vasconcelos. Em 1922 foi criada a primeira escola estadual, a cargo da professora Maria Alves Machado. Em 1924 foi nomeada a professora Maria Amélia Cavalcanti, para também atuar na escola estadual.
A agência Postal foi inaugurada no dia 26 de abril de 1926, com o nome de “Santa Luzia”, em virtude de já haver outra localidade no Estado com o nome de “Boa Vista”. O primeiro agente postal foi Maria Pereira de Moura. Através da Lei nº 1.944, de 19 de setembro de 1928, o Povoado de Santa Luzia passou a se chamar de “João Alfredo”, por determinação do então governador do Estado, Dr. Estácio Coimbra. No dia 27 de março de 1931, através do ato nº 43, o tenente Alfredo Agostinho, prefeito de Bom Jardim, elevou o Povoado à categoria de Vila e criou o Distrito Judiciário, com sede nesta terra. O primeiro Juiz de Paz foi José Procópio Cavalcanti e o oficial do registro civil o Sr. Manoel Ferreira Campos.
Por efeito da Lei Estadual nº 23, de 10 de outubro de 1935, foi criado o Município de João Alfredo, sendo oficialmente instalado no dia 21 de outubro do mesmo ano. Dentre as figuras que mais batalharam para a nossa emancipação política, destacaram-se o deputado estadual Arsênio Meira de Vasconcellos, Dr. Ângelo de Souza, Dr. Costa Pinto, Dr. Mário Melo, Dr. Antônio Raposo e o Dr. Álvaro Lins e Silva. O major Pedro Olímpio de Vasconcelos Maia foi nomeado interventor do novo Município. Por Magno Martins
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