Por Severino Lopes, do jornal O Poder
Desde o início da pandemia da Covid-19, cientistas do mundo inteiro iniciaram a corrida pela vacina. Considerada a medida mais eficaz para barrar o vírus, a vacina se tornou obsessão. Há pouco mais de um ano, desde que surgiu o primeiro caso do novo coronavírus, o brasileiro já está íntimo dos nomes de vacinas produzidas de diversos laboratórios, a exemplo do CoronaVac, AstraZeneca, Sputnik V, Pfizer, e Janssen. Pelo menos quatro dos imunizantes, que estão sendo aplicados na população brasileira, tem autorização da Anvisa. Quem já tomou a vacina se emocionou. Pelo menos 12% da população já está vacinada. Um esforço da ciência e do SUS.
NOSSA VACINA
Só que esse esforço da ciência não para por aí. Muito em breve, o Brasil poderá ter uma vacina 100% brasileira. E quem gerencia esse ousado projeto é um pesquisador paraibano. O PODER PARAÍBA conversou com exclusividade com o biomédico Roberto Carlos Júnior, que falou da emoção e alegria de liderar uma equipe de 42 cientistas que desenvolvem, na USP, a vacina contra a covid-19 em spray e 100% brasileira.
O PROJETO
Residindo atualmente em São Paulo, o pesquisador Roberto Carlos que integrou o Núcleo de Tecnologias Estratégicas em Saúde (Nutes) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), foi o único paraibano escolhido para gerenciar o projeto (Project Manager) visando o desenvolvimento de vacina para SARS-CoV-2 utilizando VLPs. O projeto é liderado pelo professor Jorge Kalil, um dos principais pesquisadores do mundo, e respeitado cientista, que já foi diretor do Instituto Butatan, centro de pesquisas biológicas situado em São Paulo e é o responsável por pesquisa sobre coronavírus no Brasil.
TESTES
Roberto Carlos garantiu que os testes da vacina estão adiantados. Ele contou que os pesquisadores entraram na reta final do projeto e a perspectiva é que, ainda este ano, a vacina 100% brasileira seja aprovada pela Anvisa e comece a ser aplicada na população. Segundo o cientista garantiu a O PODER, os testes da vacina estão sendo feitas em animais de médio e grande porte e os resultados têm surpreendido a equipe.
EFICÁCIA
O cientista garantiu que a exemplo das demais vacinas de diversos laboratórios, que estão sendo aplicadas no mundo contra a Covid, a futura vacina brasileira terá eficácia acima de 90%. Segundo ele, todos os testes feitos em animais, garantiram a eficiência do projeto.
"Estamos empolgados e confiantes de que em breve, a vacina 100% estará a disposição da disposição da população. Para mim, é uma honra fazer parte desse projeto em um momento tão delicado da história da humanidade" disse o pesquisador.
PLATAFORMA
Iniciado há pouco mais de um ano, o projeto do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP junto ao Incor (Instituto do Coração) está “utilizando a plataforma de vacinas baseadas em partículas vírus símile (virus like particles, ou VLP) conjugando sequências peptídicas do SARS-CoV-2 aos Q²VLPs e VP1VLPs da proteína Spike utilizando-os como mecanismo de entrega de antígenos peptídicos aos componentes celulares do sistema imunológico.
SPRAY
Roberto Carlos explicou que a vacina brasileira tem um outro método, diferente das aplicadas no Brasil atualmente. Dando certo, o que todos da equipe esperam, o imunizante será aplicado por via nasal, por spray. Conforme explicou o biomédico paraibano, a aplicação por spray no nariz, ajuda a reduzir ainda mais a contaminação. Segundo ele, por ser intranasal a vacina brasileira causa uma imunidade de mucosa.
O TRATAMENTO
Ele explica que esse método pretende não apenas tratar do coronavírus dentro do corpo, como as vacinas injetadas, mas bloqueá-lo já na entrada. Isso porque, mesmo sem ficar doente, uma pessoa pode transmitir o vírus que fica lá no nariz pelo espirro.
“É um grande diferencial. No nariz, a gente pode vir a ter receptores do vírus. Você não tem mais a doença, mas os receptores continuam lá. Quando você espirra, libera gotículas no ar e pode contaminar outra pessoa. Então, se você tem uma vacina que neutraliza esses receptores, então o vírus não vai se ligar a eles. Você nem tem mais a doença, nem transmite”, diz o pesquisador.
INSUMOS
Ao contrário da CoronaVac, que é produzida pelo Instituto Butantan, de São Paulo, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, a vacina em desenvolvimento na USP é 100% brasileira. Por isso, já são reduzidas as possibilidades de um entrave diplomático, como aconteceu em relação à China, ou da Índia, cujos entraves burocráticos e conflitos com o governo federal atrasaram o envio das doses da AstraZeneca.
Roberto Carlos observou que a vacina brasileira vai usar alguns insumos que partem do exterior e alguns nacionais, o que permite aos pesquisadores fazerem uma melhor análise de qual o melhor insumo a utilizar.
RELACIONAMENTO
Ele garantiu que todos os pesquisadores envolvidos no projeto estão conseguindo manter um ótimo relacionamento com os órgãos regulatórios, junto às empresas. Isso está ajudando no andar do desenvolvimento da vacina.
VARIAÇÕES
A pesquisa também já está de olho nas variações do coronavírus, que começaram a aparecer na Inglaterra, na África do Sul e no Brasil (em Manaus). “A gente também começou o mapeamento das estruturas que compõem as variantes que estavam acontecendo em outros países e em Manaus”, confirma. “Estamos analisando para que nossa vacina seja mais completa”.
NOME DA VACINA
Após estudos, testes e muita análise de dados, a pesquisa entrou em uma nova fase e já é uma realidade. O paraibano disse que os pesquisadores ainda não definiram o nome da vacina brasileira, o que deve acontecer em breve. Apesar de não projetar uma data exata para a aplicação das primeiras doses na população, ele disse que a pesquisa está bem próxima do resultado final.
Segundo ele, o nome da vacina está em análise no Instituto Nacional de Pesquisa. “O que posso adiantar é que a vacina é uma realidade. Não podemos estipular uma data, mas acredito que brevemente estaremos divulgando quando teremos a vacina" disse.
AS VACINAS
O PODER quis saber a opinião do pesquisador sobre as vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil e ele garantiu que todas são eficazes. Para o biomédico, a ciência tem dado uma enorme contribuição ao mundo em uma das piores crises sanitárias da história.
Ele destacou o esforço dos cientistas do mundo inteiro, que se desdobraram para produzir vacinas em tempo recorde, conforme apelo da própria Organização Mundial da Saúde (OMS).
SEM ESCOLHA
Roberto Carlos disse que a vacina representa esperança e alívio e que a população não precisa escolher o imunizante de laboratório A ou B. Como pesquisador, ele garantiu que todas elas tem eficácia comprovada pela ciência.
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