Sempre existiram, e quem viveu os difíceis anos 70 sabe bem disso, os sabe-tudo da esquerda, que agem como quem enxerga o povo como um ator que deve seguir o papel e o “texto” que se lhes designa.
No fundo, agem da mesma forma daqueles a quem consideram antípodas, a classe dominante e suas projeções mentais, filosóficas e ideológicas, sobre a classe média.
Nestes tempos de Facebook e Twitter aparecem e ganham adeptos, pois cada um de nós, tal como acontecia com a seleção de futebol, somos tentados a nos tornar “técnicos”.
A consciência popular, porém, forma-se por outros processos, não apenas o das razões etéreas, dos julgamentos morais e das seitas ideológicas.
Ela se cria por um grande caldeirão onde se juntam a realidade presente, as memórias, os sonhos que, muitas vezes, nem se sabe expressar e que pesquisador algum vai detectar senão de forma genérica.
E é deste caldeirão, que saem, num parto longo, de anos, os líderes.
Há um único desafio nestas eleições, que estariam resolvidas se não estivéssemos num processo autoritário que pretende excluir delas aquele que seria seu vencedor, Lula.
O processo de resistência a esta monstruosidade e o da transferência da candidatura a quem ele definiu como seu procurador se confundem, não se excluem.
Os seus adversários batem quase que em uma só tecla: “é uma farsa”, “está demorando”, “precisa definir logo”, “o PT e seus candidatos estão sendo prejudicados pela indefinição”. Não passa dias sem que mervais e sardembergueres, de todos os tamanhos, repitam a cantilena.
Lamento informar que Fernando Haddad não é candidato “para o PT”, apenas “pelo PT”.
Como sereias, querem que ele demonstre que não é “um poste”, que tem virtudes próprias e independência. Ora, tudo isso tem, mas não é isso que importará ao sucesso ou insucesso de sua missão.
A natureza de sua candidatura é a de representar Lula e os 50 dias até a eleição devem ser empregados em dizer à população mais carente de informação que Lula é o candidato “de verdade” e ele está ali para falar o que não deixam Lula falar.
E que, no Governo, será o intérprete de Lula apenas o tempo que seja necessário para que ele próprio volte a dirigir o país diretamente.
Que ele está ali para ser Lula, a pedido de Lula, enquanto Lula não puder estar com seu povo.
Que sua legitimidade, mas que ser Haddad, é ser a porta para Lula voltar.
Todo o resto é mercadoria de pouco valor.
Seu “programa de governo” é trazer Lula de volta e trazer de volta, com ele, os tempos do Lula.
Aqueles que, na memória e nos desejos, eram o contrário da realidade em que o povo está.
Madalena França.
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